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Publicada em: 12/06/2024 09:36. Atualizada em: 12/06/2024 10:18.

Artigo em ZH: "Carne, refri e balão", de autoria da juíza do Trabalho Aline Fagundes

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Fotografia da Juíza Aline FagundesTexto publicado no jornal Zero Hora, edição de 12 de junho de 2024, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil.

Era domingo, dia que o gaúcho já acorda envolvido com os preparativos do churrasco do almoço. Ana Laura – 7 anos – recebeu a incumbência de fazer a lista do supermercado, com o alerta de que anotasse apenas o essencial. Missão dada, missão cumprida: “carne, refri e balão”.

Se em um primeiro momento nos passou pela cabeça que Ana Laura é uma privilegiada porque tem churrasco à mesa no domingo – e certamente é –, percebemos que ela é ainda mais privilegiada porque o balão está entre seus itens essenciais.

O recente cenário que se formou a partir da calamidade decorrente das cheias que assolaram o Estado mudou a feição da lista de essencialidades: Uma casa seca? Um abrigo seguro? Talvez até um bote, para aqueles que viveram a angústia de esperar resgate. Traumas como esse tendem a estender seus danos por muito tempo. A água baixou, mas a destruição de bens, propriedades e meios de subsistência ficam.

Hoje, Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, precisamos refletir sobre o impacto desse momento na vida das nossas crianças. Fatores como o agravamento da pobreza, o fechamento de escolas e a interrupção de serviços assistenciais tendem a provocar um aumento de ocorrências de trabalho infantil na busca de sobrevivência. É importante ter presente, no entanto, que trabalhar precocemente não é solução, mas, sim, o caminho para a perpetuação da pobreza. Parece dissociado da realidade falar em educação, lazer e bem-estar, quando os medos que nos cercam são a fome, a miséria e o abandono. Porém, estamos falando de um ser em desenvolvimento, que precisa e merece de nós muito mais do que esse escasso e cruel cenário de alternativas.

Permitir que uma criança trabalhe talvez solucione o prato de comida de hoje, mas a aprisiona. Nossa luta, a partir de uma infância apta a um desenvolvimento saudável, está na formação de um adulto capaz e qualificado, e na construção de um futuro digno. A Ana Laura era muito jovem para saber, mas já nos ensinou que balão faz toda a diferença.

Aline Doral Stefani Fagundes
Juíza do Trabalho
Gestora regional do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem

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Fonte: Secom (TRT-4). Foto de destaque: NewAfrica (DepositPhotos)
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