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Publicada em: 07/11/2025 15:40. Atualizada em: 07/11/2025 15:41.

Fórum Antirracista do TRT-RS: falas de abertura reforçam importância de debater o racismo na instituição e na sociedade

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Foto em ângulo aberto, mostrando público em primeiro plano, de costas, e a mesa oficial e o telão, ao fundo.O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região realiza, nesta sexta-feira (7/11), o 7º Fórum Aberto de Educação AntirracistaAbre em nova aba, no Plenário Milton Varela Dutra.

O evento é organizado pela Escola Judicial e pelo Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT-RS, com apoio do Coletivo Negros do TRT-RS e do Sintrajufe/RS.

A edição deste ano debate temas como apropriação cultural, racismo religioso, racismo recreativo e as interseccionalidades entre esses conceitos.

A mesa de abertura do Fórum, pela manhã, teve a participação do vice-presidente do TRT-RS e presidente eleito, desembargador Alexandre Corrêa da Cruz (por vídeo, pois estava em uma mediação em Carazinho-RS), do desembargador Gilberto Souza dos Santos (representando a Presidência do TRT-RS), da juíza Lúcia Rodrigues de Matos (uma das coordenadoras do Comitê de Equidade) e das servidoras Fernanda Maria Aguilhera dos Santos (representante dos servidores negros e negras na instituição) e Gladis Carita Marques (representante do Coletivo Negros do TRT-RS).

As falas reforçaram a importância de o Tribunal realizar este evento – que chegou à sua sétima edição – e debater este tema tão relevante. 

Fernanda Maria Aguilhera dos Santos
Fernanda Maria Aguilhera dos Santos

“O que discutimos aqui, hoje, não é teoria abstrata. É a vida vivida por nós. Hoje, quando falarmos de apropriação cultural, de racismo religioso, de racismo recreativo, estaremos falando de condições de existência. De quem tem, de quem pode ser pleno, de quem pode rir sem ser ridicularizado, de quem pode trabalhar sem apagar as suas origens, de quem pode expressar sua fé sem ser criminalizado, de quem pode entrar e permanecer neste espaço inteiro. E quando uma pessoa pode existir inteira, a instituição também se transforma. Incorpora olhares plurais, experiências diversas, múltiplas formas de compreender o trabalho, a vida e a justiça. A promoção da equidade racial não é uma gentileza administrativa, é uma responsabilidade constitucional e humana. Então, que este fórum siga nos ajudando a caminhar, a ouvir mais, a enxergar mais, a transformar mais. Como diz um provérbio africano: a palavra que caminha é a que permanece viva.”
Servidora Fernanda Maria Aguilhera dos Santos (integrante do Comitê de Equidade, representante dos servidores negros e negras)

Servidora Gladis Carita Marques (representante do Coletivo Negros do TRT-RS)
Gladis Carita Marques

“Quando surgiu a necessidade de se construir o comitê, a primeira coisa que a gente pensou é: ‘para se organizar, temos que saber quem nós somos, onde estamos, onde e quantos negros temos, onde eles estão trabalhando’. Daí a Eliane (Eliane Abreu, hoje servidora aposentada) veio com a ideia: ‘Vamos fazer um encontro dos servidores negros e negras do TRT4”. Foi um Deus nos acuda. Vieram comentários: ‘vocês estão fazendo racismo reverso’,  ‘vocês estão discriminando mais ainda’, ‘vocês querem separar os negros dos brancos’. Daí que surgiu a ideia de se fazer um fórum, de educação antirracista. Porque, desde o início, o objetivo é educar colegas servidores, pessoas brancas, também de fora, sobre temas que nos atravessam desde o início de nossa existência”.
Servidora Gladis Carita Marques (representante do Coletivo Negros do TRT-RS)

Gilberto Souza dos Santos
Gilberto Souza dos Santos

“Sou uma das três pessoas que se reconhecem como negras entre os desembargadores e desembargadoras do TRT-4. Acredito que a minha presença simboliza que negros e negras podem almejar os postos elevados das carreiras jurídicas públicas. Se um neto de um carroceiro e uma dona de casa por parte de mãe, e de um cabo do Exército e uma dona de casa por parte de pai, um dos oito filhos de servidores públicos do Ensino Fundamental e Médio e do INSS, respectivamente, passou em um concurso do MPT aos 46 anos, tendo a sua formação toda feita em escolas públicas, se ele pode estar aqui, todos nós podemos. Todavia, após um contínuo letramento racial em muitas horas de formação antirracista, sei que a ninguém é dado o direito de se iludir com os poucos exemplos de pessoas negras que ultrapassam essas barreiras. Sem políticas públicas de inclusão eficazes, não veremos um equilíbrio de representação racial no Judiciário brasileiro”.
Desembargador Gilberto Souza dos Santos (representando a Presidência do TRT-RS na mesa de abertura)

Alexandre Corrêa da Cruz, no telão
Alexandre Corrêa da Cruz, no telão

“Vê-se a necessidade permanente de reafirmação do papel da Justiça do Trabalho como agente de transformação social, indutor da emancipação, mediante a atuação institucional firme na implementação de medidas que objetivem estimular a construção de uma cultura verdadeiramente antirracista, que valorize a diversidade, promova a igualdade e honre a dignidade de todas as pessoas. Este é, sem dúvida, o caminho que devemos seguir e nele não devemos retroceder. Causa perplexidade serem ainda numerosos os que entendem, ou ao menos consideram admissível, que em razão de determinadas características há pessoas que merecem ter tratamento discriminatório ou não possam ser reconhecidas como são, com seus valores e suas crenças. Isso representa um desafio contínuo aos princípios fundamentais da igualdade e de respeito à dignidade humana, a muito assegurados formalmente, mas ainda muito longe de serem alcançados em toda sua plenitude.”
Desembargador Alexandre Corrêa da Cruz, vice-presidente do TRT-RS (por vídeo)

Maria Silvana Rotta Tedesco
Maria Silvana Rotta Tedesco

“O tema escolhido para reflexão neste dia – a apropriação cultural e suas intersecções com o racismo religioso e o racismo recreativo – é de vital importância, porque está presente em todas as situações da nossa vida cotidiana. É preciso cada vez mais difundir o conhecimento sobre esses conceitos centrais de raça e racismo, para que possamos ficar atentos a episódios em que pessoas negras são hostilizadas por suas crenças, e aqueles em que o racismo possa vir disfarçado de humor e brincadeiras. No Tribunal, nós vivemos cotidianamente com a necessidade de decidir sobre situações em ambientes de trabalho em que se verificam essas situações de racismo. Não é por outra razão que o CNJ, por meio do programa Justiça Plural, está desenvolvendo uma trilha formativa sobre justiça e equidade racial. É importante que tenhamos cada vez mais a presença em eventos como esses de pessoas brancas, de pessoas que venham aprender o que nossos docentes estão propostos a ensinar hoje”.
Desembargadora Maria Silvana Rotta Tedesco, vice-diretora da Escola Judicial

Lúcia Rodrigues de Matos
Lúcia Rodrigues de Matos

“Enquanto pessoas brancas integrantes do grupo racial dominante, dotadas de privilégios simbólicos e materiais, construídos historicamente e mantidos no dia a dia, penso que nos cabe pensar, ver, ouvir e agir, principalmente para superar a realidade que nós achamos não ser justa. Não dá para se sentir exausto de um dever social histórico (…) É entusiasmante saber que a existência do fórum, já na sua sétima edição, é algo transformador. Desejo uma vida longa e vigorosa ao Fórum, mas nem tanto. Para que um dia a gente possa se encontrar para falar de diversidade, mas apenas como celebração. Não mais para tratar de desigualdades e violências, mas para a celebração da diversidade entre todas as pessoas, em harmonia com a natureza”.
Juíza Lúcia Rodrigues de Matos, uma das coordenadoras do Comitê de Equidade do TRT-RS

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Fonte: Gabriel Borges Fortes (Secom/TRT4), com fotos de Tania Meinerz
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