Prêmio Innovare: TRT-RS apresenta projeto que registra vivências e memórias de servidores e magistrados negros e negras
O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-RS) apresentou, nesta quarta-feira (30/7), o projeto “Percursos, vivências e memórias de servidores e magistrados negros e negras do TRT4” aos consultores do Instituto Innovare, que estiveram na sede do Tribunal para avaliar práticas inscritas na edição 2025 da premiação.
Estiveram presentes pela organização da premiação no Estado os advogados Camilo Macedo e Mariana Zinelle de Araújo.
A iniciativa registrou, entre 2020 e 2021, as trajetórias pessoais e profissionais de magistrados e servidores autodeclarados negros, ativos e inativos, incluindo aqueles que ingressaram na instituição por meio da política de cotas raciais. Ao todo, foram realizadas 27 entrevistas, em formato de história oral, com cerca de 120 horas de gravações, resultando na produção de um livro e de um documentário lançados em 2021.

Durante a apresentação, o presidente do TRT-RS, desembargador Ricardo Martins Costa, destacou que o projeto coroa uma longa trajetória institucional voltada à valorização da diversidade.
“É todo um trabalho de afirmação que o Tribunal tem há um longo tempo. Esse projeto representa essa trajetória institucional, essa política afirmativa. E tenho certeza de que ele culmina, mas daqui para frente é só consolidar”, afirmou. O presidente também sugeriu que os exemplares do livro sejam assinados pelos envolvidos e entregues ao Instituto Innovare como forma simbólica de valorização da prática.
A juíza Eliane Covolo Melgarejo, coordenadora do Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade, afirmou que a iniciativa “além de inédita, é muito cara para nós”. Segundo ela, o projeto busca mostrar histórias muitas vezes invisibilizadas nas instituições.

“A memória histórica está umbilicalmente ligada à reparação histórica. Se não conhecemos a nossa história, se não visibilizamos os acontecimentos, se não preservamos a cultura, o que isso diz da nossa instituição? O projeto visa exatamente trazer cor e vida à nossa memória institucional”, declarou.
Eliane também recordou que a política de equidade do TRT-RS, criada em 2017, foi uma das inspirações para a política nacional do CNJ.
A servidora Roberta Liana Vieira, uma das idealizadoras da iniciativa, contou que a proposta surgiu a partir de encontros entre colegas negros e negras do Tribunal.
“Quando a gente conversava, as histórias eram muito parecidas. Havia algo ali que era estrutural”, relatou.

Roberta explicou que a metodologia utilizada foi a da história oral, inspirada nos griots africanos: “A gente quis resgatar essa tradição de transmitir a história pela fala. Esse projeto é sobre a nossa potência, sobre o que temos a contribuir para o mundo.”
O servidor aposentado Márcio Meireles Martins, também responsável pela coordenação do projeto, complementou que a seleção dos entrevistados buscou garantir representatividade e diversidade.
“Nós nos preocupamos com a equidade de gênero, presença de pretos e pardos, diversidade sexual e pessoas com deficiência. Isso está no livro. São fontes de pesquisa valiosas para a universidade, mas também para dentro da própria Justiça”, observou.

Márcio também relacionou o conteúdo da obra à história brasileira.
“Esse material provoca uma reflexão profunda sobre como o Estado se estruturou ao longo do tempo para excluir e invisibilizar as pessoas negras. Esse projeto é um marco para virar essa chave.”
Um dos entrevistados no documentário, o servidor Paulo Rogério Barbosa Vargas compartilhou o impacto pessoal de participar da iniciativa.
“Desde que entrei no Tribunal, em 1998, percebia que era um ambiente branco, onde eu pouco me identificava. Tinha, inclusive, certo constrangimento em falar das minhas origens humildes. Mas o projeto me deu orgulho e força para entender que a minha história também constrói esse Tribunal”, afirmou.

Rogério elogiou o acolhimento durante as entrevistas e ressaltou a importância do fortalecimento da identidade racial: “Isso contribui diretamente para que possamos atuar com mais autoestima e participar plenamente da missão da Justiça do Trabalho.”
O projeto contou com o apoio do Memorial da Justiça do Trabalho, da Escola Judicial e da Comissão de Cultura do TRT-RS, e segue sendo utilizado como instrumento de valorização da diversidade em eventos e formações promovidas pela instituição.
O projeto

O projeto “Percursos, vivências e memórias de servidores e magistrados negros e negras do TRT4” foi desenvolvido entre 2020 e 2021 com o objetivo de registrar e eternizar as trajetórias de vida e trabalho de integrantes autodeclarados negros da Justiça do Trabalho gaúcha. A proposta nasceu da necessidade de resgatar a memória e valorizar a representatividade negra no Tribunal, considerando que, até 2021, apenas um concurso público da instituição havia reservado vagas para cotistas.
As entrevistas foram conduzidas com base na metodologia de história oral, utilizando roteiros individuais e abordando aspectos biográficos e profissionais dos participantes. Houve a preocupação de garantir equilíbrio de gênero, paridade entre pretos e pardos, inclusão de ativos e inativos, cotistas e não cotistas, representantes de diferentes cargos (auxiliares, técnicos e analistas), pessoas com deficiência e servidores nascidos fora do Rio Grande do Sul.
Todo o material colhido foi transcrito e resultou em dois produtos principais:

Livro: disponível no site do TRT-RSAbre em nova aba, reúne as narrativas e registros dos entrevistados, preservando suas histórias para futuras gerações.
Documentário: disponível no canal oficial do Tribunal no YouTubeAbre em nova aba, apresenta trechos das entrevistas e imagens de acervo, promovendo uma reflexão audiovisual sobre as trajetórias e o papel da diversidade no serviço público.
Além de resgatar histórias individuais, a prática busca fortalecer as políticas de equidade do TRT-RS, fomentar debates sobre racismo e inclusão nas relações de trabalho e valorizar a contribuição da população negra para a construção de uma Justiça mais plural e democrática.
O projeto está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes, das Nações Unidas, e continua sendo difundido em eventos e formações organizados pela instituição, consolidando-se como instrumento de valorização da memória e da diversidade no serviço público federal.