Artigo: "Uma luta diária", de autoria da juíza Carolina Gralha e da procuradora do Trabalho Patrícia de Mello Sanfelici Fleischmann
Publicado originalmente no jornal Zero Hora, edição de 18/05/2022.Dia 18 de maio é marcado pelo dia nacional de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, luta que ainda é necessária e se impõe todos os dias. Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com Unicef informa que 100 crianças e adolescentes são vítimas de violência sexual no Brasil diariamente. Todavia, este número é certamente subdimensionado, já que muito do abuso e da exploração passa ao largo de qualquer possibilidade de denúncia. Certo é que, a infância vem sendo aviltada por atos de diversos tipos, o que se agravou a partir da pandemia do coronavírus, período em que intensificou a vulnerabilidade social enfrentada por milhões de brasileiros.
Lutar contra a exploração sexual de crianças e adolescentes é lutar para que a dignidade seja mantida desde o berço, e que não se permita que o sofrimento e o trauma se estabeleçam como realidade. A exploração sexual de crianças e adolescentes – uma das piores formas de trabalho infantil - é invisível, mas conhecida por todos, devendo ser encarada como uma forma inaceitável de abuso, que viola e marca para sempre a vida daquele que a sofre.
Ter consciência, como sociedade, de que crianças e adolescentes não escolhem livremente a vivência da exploração sexual – seja por estarem em desenvolvimento socioemocional, seja por necessidade - é o primeiro passo para protegê-las de todo e qualquer dano daí decorrente. E o princípio da proteção integral, absoluta e prioritária inscrito na Constituição Federal, impõe a todos os cidadãos o dever de zelo pela infância. Nos eximimos dessa responsabilidade quando abandonamos os mais jovens à própria sorte. Infância e adolescência estão sendo ceifadas pelo trabalho infantil, pela exploração e pelo abuso sexual e o que nós estamos fazendo a respeito?
Que possamos, nesse 18 de maio, assumir nosso papel individual e social de denunciar, procurar ajuda, proteger os jovens com um olhar atento e cuidadoso que não permite que o abuso se estabeleça.