Psicólogo fala sobre as fontes de bem-estar e mal-estar no trabalho em primeira palestra da Sipat
O psicólogo e professor da Universidade Nacional de Brasília (UNB), Mário César Ferreira, abriu, na tarde desta segunda-feira (22/4), o conjunto de palestras da 1ª Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho (Sipat) da Justiça do Trabalho gaúcha. Na palestra "Qualidade de Vida no Trabalho", o especialista abordou os motivos da crescente importância do tema, bem como as principais fontes de bem-estar e mal-estar no ambiente de trabalho e os desafios da QVT na atualidade. As atividades da Sipat prosseguem até a próxima sexta-feira (26/4) no Foro Trabalhista de Porto Alegre, no prédio sede do TRT da 4ª Região e nas unidades da Justiça do Trabalho no interior do estado. Para conhecer a programação completa, clique aqui.
Segundo Mário César, o interesse nos últimos anos em relação à QVT está relacionado a três fatores: à competitividade, já que a falta de qualidade no ambiente de trabalho gera erros, retrabalho e consequente baixa de produtividade; ao impacto na saúde dos trabalhadores, que encontram no ambiente de trabalho fonte de insatisfação e até mesmo causa para doenças, frustrações diversas e até suicídios; e a própria satisfação dos usuários do serviço, que fica prejudicada com a baixa satisfação dos executores do trabalho. Para o especialista, estes três aspectos justificam o aumento no investimento em QVT por parte das organizações públicas e privadas nos últimos anos.
Conforme o psicólogo, o bem-estar no trabalho se manifesta de múltiplas formas. Fundamentalmente, segundo ele, existe bem-estar quando a gestão organizacional tem a execução do trabalho como fonte de prazer e quando o trabalhador é reconhecido pelos seus superiores, pelos seus pares e pela própria sociedade, no caso dos servidores públicos. Para o professor, há bem-estar quando o trabalhador não distingue entre o tempo passado dentro da organização e as vivências sociais prazerosas. Este paradigma, explica, é contrário à clássica separação entre o ambiente de trabalho e o ambiente de casa, distinção que deve ser superada. Por outro lado, as condições físicas da execução do trabalho também proporcionam bem-estar (conforto, ergonomia, etc), além da possibilidade de relações sócio-profissionais satisfatórias. "No setor terciário isso é muito importante. O que agrega sentido ao trabalho são as relações, já que neste setor não existem produtos sendo gestados", avalia o professor.
Por sua vez, entre as fontes de mal-estar no trabalho está a separação entre concepção e execução. "A distinção entre área-meio e área-fim cria dois mundos diferentes. Mas em uma universidade, por exemplo, quem serve o café deve ser tão importante quanto o pesquisador", argumenta Mário César. Para ele, uma gestão que se preocupa apenas com a produção gera mal-estar. "Não adianta o servidor entregar um trabalho na data prevista se no outro dia ele entra em licença por doença", exemplifica. "Por outro lado, a produtividade na medida certa é fonte de prazer. Ir para casa após seis horas de trabalho com a sensação de não ter feito nada é tão nocivo quanto o excesso de atividades", pondera.
A gestão que induz relações conflituosas, para Mário César, também é fonte de mal-estar. Assédio moral, estilo autoritário dos superiores hierárquicos, falta de comunicação com os trabalhadores, entre outros aspectos, geram tensões. "Quem se submete a este tipo de mal-estar de forma duradoura é candidato a doenças e afastamentos do trabalho", avalia o especialista, que cita a comunicação corporativa como fator estratégico na melhoria da QVT. "Explicar o que o órgão está fazendo para atender às demandas da sociedade é fundamental", frisa.
Como desafios da QVT nas organizações públicas, o professor cita a superação do modelo atual, baseado em atividades anti-estresse. Segundo ele, medidas como massagem, mapa astral, alinhamento energético, ioga, entre outras, não podem ser sinônimos de QVT, já que são apenas paliativas e não alteram as condições de fundo que são frutos de mal-estar. "Com uma atividade assim o trabalhador relaxa, mas depois volta às mesmas condições anteriores", explica o especialista. "Precisamos construir um modelo que contemple o olhar dos trabalhadores", afirma.
No setor público, avalia o psicólogo, é fundamental que as organizações não copiem os modelos privados. "O setor público é promotor de cidadania, não é vendedor de sabonetes. Não visa lucro. Portanto, importar modelos da iniciativa privada é um equívoco", destaca. "Precisamos de um modelo de gestão ancorado na participação dos servidores nas tomadas de decisões. Ou seja, a ideia de que a cidadania também existe dentro das organizações, não apenas fora delas", salienta.
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