Em homenagem carregada de emoção, servidor Luizinho se despede do TRT-RS

Era para ser mais uma sessão do Tribunal Pleno nesta segunda-feira (14/7). Mas o protocolo das formalidades foi quebrado.
Antes mesmo de iniciar a pauta de julgamentos, o presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-RS), desembargador Ricardo Martins Costa, anunciou uma homenagem ao servidor Luiz Antônio Chagas da Silva, o querido Luizinho, que, aos 75 anos de idade e quase 50 de convivência com a Justiça do Trabalho, se aposentou.
Confira aqui mais fotos do evento. Abre em nova aba
A homenagem foi carregada de emoção.

Familiares de Luizinho acompanharam presencialmente a despedida e puderam assistir a um vídeo com trechos de entrevistas concedidas por ele ao documentário “O futuro do mundo é preto”Abre em nova aba, produzido pelo Memorial do TRT-RS em 2022.
Martins Costa relembrou a trajetória de Luizinho com carinho e gratidão.
“É um dia muito especial para o Tribunal, ao mesmo tempo um pouco triste, porque vamos deixar de conviver com uma das pessoas mais queridas que temos aqui. Luizinho honra o serviço público”, declarou.

O presidente destacou ainda os 38 anos de serviço oficial de Luizinho no Tribunal e revelou que sua aposentadoria havia sido publicada justamente naquele dia.
“Eu prometi a ele que só assinaria depois da sessão do Pleno”, brincou. E finalizou, olhando para os familiares presentes: “Agradeço a presença de toda a família. Luizinho, que honra a tua história com a Justiça do Trabalho.”
Luizinho não se despede apenas de uma função.
Encerra uma trajetória marcada por profissionalismo, gentileza constante e uma simpatia que conquistou gerações de magistrados, servidores e todos os demais que conviviam com ele.

Seu nome é uma dessas referências silenciosas que todo mundo conhece — e respeita. É sinônimo de confiança, de cuidado, de presença atenta.
Sua história com o Tribunal começa muito antes do primeiro contracheque.
Aos 13 anos, já circulava pelo antigo prédio-sede do TRT-RS, na Avenida Júlio de Castilhos, vendendo jornais e revistas para magistrados e servidores.
Era só um menino, mas já trazia no olhar a dignidade de quem sabia a importância de cada oportunidade.

Durante a presidência do desembargador Carlos Alberto Barata Silva (1965-1971), uma decisão mudou sua vida: após restrições ao acesso de jornaleiros, Luizinho foi o único autorizado a continuar entrando no prédio. O motivo? Confiança.
A confiança cresceu com os anos, alimentada por pequenos gestos: entregas de flores com bilhetes apaixonados, revistas com recados discretos, favores entre colegas.
Ele gosta de dizer que muitos casamentos começaram por sua intermediação. E talvez seja verdade. Afinal, Luizinho sempre foi ponte — entre pessoas, entre épocas, entre o Tribunal e sua própria memória.

Depois de servir ao Exército em São Gabriel, foi acolhido por uma colega aposentada, Corália Glória Borba Arieta, a quem chama de mãe de criação.
Estudou, trabalhou como técnico de enfermagem e tentou três vezes até ser aprovado no concurso do TRT-RS, em 1987. Ingressou como auxiliar operacional e, dois anos depois, foi promovido a técnico judiciário.
Nos últimos anos, atuou na Seção de Recepção de Gabinetes, sendo figura essencial nas sessões de julgamento do segundo grau. Com discrição e eficiência, preparava as salas, organizava processos, distribuía togas, orientava os presentes.

Como meirinho, era responsável pelo apoio direto ao andamento das sessões.
Era o primeiro a chegar e, quase sempre, o último a sair. Sempre com um sorriso. Sempre com educação.
A desembargadora Rosane Serafini Casa Nova emocionou os presentes ao falar da importância humana e profissional de Luizinho.
“Eu queria muito que essa homenagem ficasse gravada no teu coração, pela importância, pela pessoa maravilhosa que tu sempre fostes e continuas sendo”, afirmou.

Rosane descreveu a atenção com que Luizinho acompanhava cada sessão, oferecendo água, café e, acima de tudo, tranquilidade nos momentos mais tensos.
“Essa alegria que tu nos contagiaste durante tanto tempo vai ser a marca que vamos guardar de ti no Tribunal.”
A magistrada também lembrou do trabalho voluntário realizado por Luizinho e do espírito solidário que se expressa até mesmo nas campanhas de Natal.

“Sempre que chega dezembro, ele bate à nossa porta pedindo balas e pirulitos para distribuir entre as crianças. Isso diz muito sobre quem tu és”, concluiu.
A fala de Rosane foi seguida de uma salva de palmas e do convite para que Luizinho fosse até a frente do Plenário, onde ele recebeu uma placa em sua homenagem um presente.
Diversos desembargadores e representantes de entidades pediram a palavra.

Desembargador Clóvis Fernando Schuch: “Luizinho marcou sua trajetória de forma exemplar e conseguiu uma coisa muito difícil no Tribunal: a unanimidade do carinho e da amizade.”
Desembargadora Carmen Gonzalez: lembrou da entrega da Ordem do Mérito ao servidor. “Foi uma honra para mim, Luizinho, fazer essa entrega para ti”.
Desembargadora Cleusa Regina Halfen: “Um servidor que é símbolo de afeto, confiança e respeito”.
Desembargadora Beatriz Renck: “Desejo muitíssimas felicidades, porque ele é muito merecedor e vai ficar sempre no nosso coração”.

Advogada Márcia Helena Somensi, presidente da Satergs: “O Luizinho era sempre o sorriso que iluminava os nossos dias”.
Advogada Caroline Anversa, presidente da Agetra: “A advocacia reconhece o teu papel essencial e o carinho que a gente tem por ti”.
Juiz Tiago Mallmann Sulzbach, presidente da da Amatra4: “Sinto muito orgulho da minha instituição por fazer uma homenagem bonita como esta a um ser humano excepcional como é o Luizinho”.

Casado, pai de Carolina e André, ele também é ativo na comunidade religiosa e realiza trabalhos voluntários.
Agora, com a aposentadoria, pretende dedicar-se ainda mais à família — sem pressa, com o mesmo cuidado com que lidava com cada detalhe no Tribunal.
A homenagem do Pleno foi carregada de carinho. Mas, acima de tudo, foi sincera.
O Tribunal vai seguir em frente, como precisa ser.

Mas haverá sempre um espaço vazio na cadeira onde ele costumava sentar, nas togas que ele entregava com capricho, no café e na água que ele servia aos magistrados e no “bom dia” que iluminava as sessões.
A homenagem termina com uma efusiva salva de palmas de pé por todos os desembargadores e demais presentes.
Com os olhos marejados, Luizinho sai pela porta da frente — como sempre entrou.