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Publicada em: 22/05/2024 09:25. Atualizada em: 22/05/2024 10:31.

Artigo: "Crônica de uma morte anunciada", de autoria da juíza do Trabalho Maria Teresa Vieira da Silva

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Fotografia da juíza Maria TeresaTexto publicado no jornal Zero Hora, edição de 22 de maio de 2024.

Faz silêncio no Rio Grande do Sul. Faltou tudo. Luz, água, ainda faltam alimentos, faltam casas, falta a própria vida daqueles que pereceram por conta de uma tragédia absolutamente previsível, uma "crônica de uma morte anunciada", como diria o Gabriel García Márquez.

As chuvas que assolam o RS são as mais intensas registradas em oito décadas. Essa tragédia, contudo, não é fortuita. Não se trata de mero capricho da natureza.

Conquanto o RS ostente condições geográficas que favorecem a ocorrência de eventos climáticos, a verdade é que a tragédia tem causas outras facilmente identificáveis: a política de uso intensivo do solo, a autorização para o aumento das áreas de plantio da soja, a especulação imobiliária em zonas ribeirinhas, o desmonte da legislação ambiental, a falta de responsabilidade com o saneamento básico, com a transição energética e com a manutenção do sistema de defesa contra cheias na Capital.

E tudo isso no Estado que foi pioneiro na luta ambiental no Brasil, onde se ativaram Henrique Roessler e José Lutzenberger, onde foi criado o primeiro órgão ambiental, a primeira lei de agrotóxicos e uma Constituição voltada para a questão ambiental.

Triste dizer, mas essas conquistas foram perdidas pela perversa lógica capitalista. Enquanto o mundo todo busca o equilíbrio ambiental, o RS e o Brasil preconizam que a legislação ambiental atrapalha o desenvolvimento econômico e, pior, negam dados científicos sobre aquecimento global e desmatamento.

Vamos precisar de muita ajuda para reconstruir o Estado, que está economicamente abalado e emocionalmente fragilizado com as perdas humanas e materiais, mas sobretudo para interromper o processo de desmonte da legislação ambiental.

Mal nos recuperamos de uma pandemia e agora teremos que enfrentar os efeitos dessa tragédia. A hora é de pensar nas pessoas, cuidar de sua saúde mental. O tempo é de virar a chave: mais do que ver o outro, reparar, como nos alertou Saramago. Mais ainda, temos que cuidar da casa comum, como ensina Leonardo Boff, antes que seja tarde demais.

Maria Teresa Vieira da Silva
Juíza do Trabalho
Vice-coordenadora da Comissão de Direitos Humanos e Trabalho Decente do TRT-4

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Fonte: Secom/TRT4
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