TRT-RS inaugura Banco Vermelho e abre exposição em ato pelo fim da violência contra a mulher
Um banco vazio costuma sugerir espera, pausa, descanso. Mas, no saguão de um Tribunal, pintado de vermelho vivo, ele deixa de ser mobiliário para transformar-se em ausência.
A ausência de mulheres que não chegaram ao fim do dia. De mães, filhas, amigas e colegas que tiveram as vidas interrompidas pela violência de gênero. Violência que, como lembrou uma das falas do ato, tornou-se “cada vez mais intensa e cruel”.
Foi com esse simbolismo que o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-RS) lançou, na manhã desta quinta-feira (4/12), duas iniciativas alinhadas à mobilização internacional dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres: a instalação de Bancos Vermelhos no Foro Trabalhista de Porto Alegre e no prédio-sede do Tribunal, e a abertura da exposição “Cartoons contra a Violência”, que reúne ilustrações de artistas de todo o país com mensagens de denúncia e reflexão.
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Alegre.
A cerimônia contou com a presença do presidente do TRT-RS, desembargador Ricardo Martins Costa, da vice-corregedora, desembargadora Maria Madalena Telesca, e da ouvidora da Mulher e das Ações Afirmativas, desembargadora Carmen Izabel Centena Gonzalez.
Ato simbólico
As duas ações integram a agenda coordenada pela Ouvidoria da Mulher e das Ações Afirmativas, pelo Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade e pelo Subcomitê de Acolhimento de Vítimas de Violência Doméstica do TRT-RS.
O Banco Vermelho, criado originalmente na Itália e oficializado no Brasil em 2024, funciona como alerta visual contra o feminicídio e o memorial da ausência.
Já os cartoon expostos dialogam com prevenção, denúncia e enfrentamento à violência de gênero, unindo arte e pedagogia para alcançar diferentes públicos que circulam diariamente pelo foro.
“Até quando?”
A desembargadora Carmen Izabel Centena Gonzalez iniciou sua manifestação situando o Tribunal dentro do movimento global pelo fim da violência contra a mulher: “Hoje o nosso Tribunal se une formalmente a mais uma das campanhas mundiais pelo fim da violência contra as mulheres. Já integramos a campanha He for She, e agora estamos lançando a Campanha Banco Vermelho dentro dos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”.
A magistrada também relacionou o lançamento com episódios recentes de violência registrados no país. “É com muita tristeza e pesar que lançamos essa campanha na semana em que várias mulheres foram mortas ou torturadas por homens (...). Eu poderia ficar aqui, dias e dias, relatando as inúmeras mortes e atrocidades cometidas contra mulheres pelo fato de serem mulheres e quererem cuidar da própria vida. Até quando?”
Carmen alertou para a urgência da conscientização.
“Que a campanha abraçada pelo nosso Tribunal sirva como um marco, um alerta, de que estamos cansadas, de que não mais suportamos essa letargia da sociedade e dos poderes públicos. Que as próximas gerações de mulheres possam ter independência, liberdade e autonomia, e nenhum medo de morrer pelo simples fato de terem nascido mulheres”. Leia aqui a íntegra do discurso da magistrada.Abre em nova aba
Vozes do ato
A presidente da Associação da Advocacia Trabalhista (Agetra), Caroline Anversa, destacou o papel da arte para provocar reflexão sobre a violência de gênero:
“A gente está trazendo simbologia e a arte, e isso é extremamente importante... A Justiça do Trabalho precisa ser atuante também nessa parte”.
A presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de Empresas no Rio Grande do Sul (Satergs), Márcia Helena Somensi, reforçou dados alarmantes:
“O que nos preocupa é o caráter de normalidade com que nós nos deparamos atualmente, porque me parece que o feminicídio tomou um caráter de normalidade. A violência contra a mulher é uma violação dos direitos humanos e um dos mais graves problemas sociais do nosso país”.
A diretora do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União no RS (Sintrajufe-RS), Márcia Angelita Coelho, sublinhou que a mudança depende também da participação ativa dos homens:
“Não basta que a mulher se fortaleça, não basta que a mulher se apoie, os homens precisam vir para essa função, para a denúncia. Não são todos os homens, mas todos são homens”.
Representando a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região (Amatra IV), a juíza Carolina Santos Costa lamentou que reivindicações básicas ainda precisem ser reafirmadas.
“É triste que nós tenhamos que passar por esse ato para dizer algo que é basicamente óbvio: mulheres não devem ser assassinadas, mulheres não devem ser violentadas, mulheres devem receber as mesmas condições e salários que homens”.
A servidora Gabriela Lautenschlager, representante do Comitê de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade e do Subcomitê de Acolhimento de Vítimas de Violência Doméstica do TRT-RS, descreveu a carga simbólica do memorial:
“O Banco Vermelho carrega em sua cor a marca do sangue de mulheres assassinadas pelo simples fato de serem mulheres….Que cada banco vermelho e cada cartoon despertem em nós o senso de urgência e de empatia”.
Representando a Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional do Rio Grande do Sul (OAB/RS), Simone Rossini destacou o trabalho de acolhimento realizado pela entidade:
“Sempre é muito doloroso ver nossas colegas conseguirem romper uma barreira e chegarem até nós para dizerem: ‘estou passando por isso’....Embora a história esteja triste, acho que esse é um bom começo de conscientização”.
As iniciativas
Exposição “Cartoons contra a Violência”
Local: Foro das Varas Trabalhistas de Porto Alegre
Conteúdo: ilustrações com mensagens de enfrentamento à violência contra mulheres e meninas
Proposta: sensibilização por meio da arte
Realização: Ouvidoria da Mulher, Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade e Subcomitê de Acolhimento de Vítimas de Violência Doméstica.
Campanha Banco Vermelho
Locais: Foro Trabalhista de Porto Alegre e Prédio-Sede do TRT-RS
Símbolo internacional contra o feminicídio, oficializado no Brasil em 2024
Objetivo: servir como alerta permanente e memorial das vítimas
Integra os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

