Resistência e reconstrução: um ano depois, o legado da enchente para a Justiça do Trabalho gaúcha

No fim de abril de 2024, o Rio Grande do Sul começava a viver o que seria o evento climático mais devastador de sua história. O grande volume de água, que começou nos vales do Rio Pardo e Taquari, depois invadindo Porto Alegre e Região Metropolitana, invadiu cidades, destruiu patrimônios, deixou milhares de desalojados e provocou centenas de mortes.
Em meio ao cenário de desolação, a Justiça do Trabalho gaúcha também foi fortemente atingida, mas jamais interrompeu seu compromisso com a sociedade. Um ano depois, a reconstrução física e institucional é um símbolo de resistência, solidariedade e inovação.
Documentário
Como parte das homenagens e do registro histórico desse esforço, a Secretaria de Comunicação Social do TRT-RS produziu o documentário “A grande enchente de 2024 e a reconstrução da Justiça". O filme reúne depoimentos de gestores que atuaram na linha de frente, imagens do alagamento e do trabalho de recuperação, além de homenagear magistrados, servidores e terceirizados que atuaram com dedicação extraordinária.
Assista ao documentário completo:

Impacto nos prédios
As sedes da Justiça do Trabalho, especialmente em Porto Alegre, Novo Hamburgo e São Sebastião do Caí, sofreram danos. No Prédio-Sede do TRT-RS, o nível chegou a 1,5 metro, deixando uma espessa camada de lama, avariando equipamentos e comprometendo mobiliário. No Foro Trabalhista da capital, a água subiu até 40 centímetros; O Plenário Milton Varela Dutra, local de grandes decisões e cerimônias, também ficou gravemente danificado, sendo reaberto apenas em setembro de 2024, após ampla restauração.
Entre 2 e 31 de maio de 2024, prazos processuais, audiências e o atendimento presencial foram suspensos. Para manter o funcionamento da instituição, o teletrabalho foi adotado em caráter obrigatório. A população seguiu sendo atendida de forma remota, por e-mail e balcão virtual, garantindo a continuidade dos serviços, mesmo em meio à calamidade.

Sistemas de informática e soluções emergenciais
Por motivos de segurança, o datacenter do Tribunal foi desligado em 3 de maio. O site institucional, o PJe e outros sistemas ficaram fora do ar. A Justiça do Trabalho, porém, implantou rapidamente procedimentos alternativos, com a tramitação de medidas judiciais urgentes e expedição de alvarás por e-mail. A normalização do sistema ocorreu em 17 de maio, com o apoio de dois geradores trazidos de São Paulo, fruto de esforços concentrados para restabelecer a infraestrutura digital no menor tempo possível.
Apoio à Defesa Civil
Além de proteger seus próprios prédios, equipes da segurança institucional do TRT-RS auxiliaram a Defesa Civil no resgate de vítimas, utilizando viaturas e até embarcações para o transporte de pessoas e mantimentos. Alimentos, colchões e medicamentos também foram levados até abrigos organizados em toda a capital.

Solidariedade em rede
A campanha "Ajudando Quem Precisa", organizada pelo TRT-RS, pela Amatra IV e pelo Sintrajufe/RS, arrecadou mais de R$ 500 mil para as vítimas da enchente, aplicados na compra de itens de primeira necessidade. A solidariedade mobilizou ainda Tribunais de outros Estados, que destinaram doações ao Rio Grande do Sul.
Mediações trabalhistas durante a crise
A Vice-Presidência do TRT-RS abriu espaço para a mediação telepresencial de conflitos trabalhistas coletivos surgidos em razão da tragédia. Empresas afetadas e sindicatos buscaram acordos para atravessar o período de dificuldades, permitindo a preservação de empregos e a continuidade de atividades produtivas.
Limpeza e recuperação estrutural
Quando as águas baixaram, no fim de maio de 2024, iniciou-se uma intensa operação de limpeza nos prédios atingidos, especialmente no Prédio-Sede e no Foro Trabalhista de Porto Alegre. Empresas especializadas foram contratadas para retirar lama e resíduos, possibilitando o retorno das atividades presenciais.
Resgate do patrimônio histórico
No Arquivo-Geral, onde a água atingiu quase três metros de altura, aproximadamente um milhão de processos ficaram submersos. O TRT-RS montou uma força-tarefa para resgatar o acervo. Parte é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Prioridade, a operação de recuperação segue em andamento, com apoio técnico do Arquivo Nacional.
Reconstrução do Plenário: um marco simbólico
A cerimônia de reabertura do Plenário Milton Varela Dutra, em 6 de setembro de 2024, celebrou a capacidade de superação da Justiça do Trabalho gaúcha. O evento homenageou servidores e magistrados que atuaram diretamente no enfrentamento da crise e lançou o documentário “A grande enchente de 2024 e a reconstrução da Justiça”, retratando esse capítulo de resistência institucional.

Retomada gradual
Os prazos processuais e audiências começaram a ser retomados de forma escalonada a partir de 3 de junho de 2024. O Prédio-Sede, pela complexidade dos estragos, reabriu em 9 de julho, enquanto os Foros de Porto Alegre e Novo Hamburgo retomaram as atividades em 10 de junho.
Medidas de prevenção
Desde então, a Justiça do Trabalho do Rio Grande do Sul vem implementando protocolos e reforçando estruturas para minimizar os riscos de danos em situações futuras de enchente. A prevenção tornou-se pauta permanente para garantir que a história de superação de 2024 não precise se repetir.