Imagem com o número 100 junto ao símbolo do sistema PJe
Publicada em: 08/11/2024 18:33. Atualizada em: 11/11/2024 11:27.

Racismo ambiental, ancestralidade negra e direito à cidade: reflexões no 6º Fórum de Educação Antirracista do TRT-RS

Visualizações: 774
Início do corpo da notícia.
Painel Racismo Ambiental e o Direito à Cidade.
Jorge, Brígida, Márcia e João.

O 6º Fórum Aberto de Educação Antirracista do TRT-RS, com o tema “A Negritude Gaúcha (R)Existe!”, promoveu, nesta sexta-feira  (8/11), uma série de debates para a compreensão das questões raciais no Rio Grande do Sul e em outras partes do Brasil. As atividades da tarde deram continuidade aos intensos e importantes diálogos que ocorreram pela manhã, com foco em temas como “racismo ambiental”, “direito à cidade” e “ancestralidade negra”.

Confira as fotos do evento.Abre em nova aba

Racismo Ambiental e o Direito à Cidade

A tarde começou com o painel “Racismo Ambiental e o Direito à Cidade”, que trouxe à tona a necessidade de se repensar a relação entre o meio ambiente, os direitos das populações negras e a urbanização.

Desembargadora Márcia Regina Leal Campos.
Desembargadora do TRT-RJ Márcia Regina Leal Campos.

Os palestrantes foram a desembargadora coordenadora do Subcomitê de Equidade Racial do TRT-RJ, Márcia Regina Leal Campos; o procurador do Estado do Rio Grande do Sul, doutor em Direito e presidente da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB/RS, Jorge Luis Terra da Silva; e o acadêmico João Marcelo Rodrigues, que representou o professor e doutor em Direito, docente fundador do Núcleo de Pesquisa Antirracismo da Faculdade de Direito da UFRGS, Lúcio Antônio Machado Almeida.

A mediação foi da desembargadora do TRT-RS, Brígida Joaquina Charão Barcelos.

As discussões focaram na intersecção entre as práticas de exclusão social, discriminação racial e os impactos ambientais, além de propor soluções jurídicas e sociais para garantir o direito à cidade de todos, sem distinções raciais.

Procurador do Estado do RS Jorge Luis Terra da Silva.
Procurador do Estado do RS Jorge Luis Terra da Silva.

Márcia compartilhou sua experiência pessoal ao identificar o racismo ambiental, algo que, segundo ela, passou a compreender “vivendo, não apenas lendo”. Ela relatou como cresceu em um bairro simples no Rio de Janeiro e passou a perceber a realidade da gentrificação, um fenômeno de encarecimento urbano que aprofunda a segregação socioespacial. Márcia destacou que a gentrificação não ocorre apenas na sua cidade, “mas no planeta inteiro”.

O procurador Jorge abordou o impacto do racismo ambiental de forma ampla, afirmando que “a gente está falando do impacto do racismo em mais de um domínio”. Ele explicou a teoria dos vasos comunicantes, onde desigualdades em áreas como educação e trabalho afetam diretamente a moradia, com pessoas sendo forçadas a viver em zonas periféricas com infraestrutura precária, o que também compromete a saúde. Para ele, as desigualdades se interconectam e se acumulam entre diferentes domínios.

Acadêmico João Marcelo Rodrigues.
Estudante de Direito João Marcelo Rodrigues.

O estudante João discutiu o papel do Direito Antidiscriminatório no enfrentamento do racismo ambiental, destacando as disparidades raciais presentes no Brasil em áreas como mercado de trabalho, saúde e violência contra a população negra. Ele enfatizou a importância da luta coletiva, dizendo que “com práticas coletivas a gente consegue ter um movimento forte, latente”.

Territórios: A Ancestralidade Negra de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul

No segundo painel da tarde, que teve como tema “Territórios: A Ancestralidade Negra de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul”, o foco foi a valorização da história e das raízes dos negros nas regiões do Sul do Brasil.

foto da Ancestralidade Negra de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul.
Daniele, Valdete e Fernanda.

As palestrantes Daniele Machado Vieira, professora da rede municipal, mestra e doutoranda em Geografia, pesquisadora da geografia dos antigos territórios negros de Porto Alegre; e Fernanda Oliveira da Silva, professora de graduação e pós-graduação da UFRGS e doutora em História, pesquisadora e cofundadora do Grupo de Estudos Atinuké, apresentaram pesquisas que resgatam a geografia e a história dos antigos territórios negros de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Ambas ressaltaram a importância de reconhecer a ancestralidade negra como parte fundamental da identidade histórica e cultural da região.

O painel foi mediado pela juíza do TRT-RS Valdete Souto Severo, que destacou a importância da valorização da memória negra e a preservação de espaços históricos como forma de resistência e afirmação de identidade. 

Professora Daniele Machado Vieira.
Professora Daniele Machado Vieira.

Durante os debates, foi ressaltado que pesquisa e o resgate desses territórios negros no Rio Grande do Sul são fundamentais para compreender o impacto do racismo estrutural e como ele se reflete nas atuais condições de vida das populações negras.

Daniele explicou que, por volta de 1.800, havia uma forte presença negra no Centro de Porto Alegre, mas à medida que a cidade crescia, essa população era “empurrada” para as periferias. Ela abordou a história dos territórios negros da cidade, um tema muitas vezes “desconhecido” até pelos próprios habitantes, ressaltando a importância de resgatar essa memória histórica para entender melhor a formação social e urbana de Porto Alegre.

Foto da professora Fernanda Oliveira da Silva.
Professora Fernanda Oliveira da Silva.

Fernanda, por sua vez, trouxe uma análise histórica sobre territórios e ancestralidade, propondo uma repaginação do imaginário sobre o Rio Grande do Sul. Ela destacou que, por meio do conhecimento histórico, é possível combater a ideia de uma história única sobre o estado, que se narra predominantemente como branco, embora seja o estado brasileiro com o maior número de clubes negros em funcionamento até hoje.

Lançamento do Documentário "Vozes Negras" e Roda de Conversa

O evento terminou com o lançamento do documentário "Vozes Negras", que foi seguido de uma roda de conversa com os idealizadores e participantes do projeto.

Documentário "Vozes Negras" foi exibido durante o Fórum.
Documentário "Vozes Negras" foi exibido durante o Fórum.

A obra registra e celebra as experiências e reflexões no processo de educação antirracista de jovens da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Martim Aranha, na Vila Cruzeiro, em Porto Alegre.

O documentário é fruto do trabalho da professora Estela Benevenuto e do professor Marcus Vianna, que guiaram os alunos e as alunas na construção de um espaço educativo onde o antirracismo é mais do que um tema de debate – é uma prática vivida no cotidiano escolar.

Participaram da roda de conversa os professores Estela e Marcus, e as alunas Ana Clara Barbosa dos Santos Porto e Steffany dos Santos Flores, participantes do documentário. A mediação foi da juíza TRT-RS Gabriela Lenz de Lacerda.

A roda de conversa sobre o documentário Vozes Negras.
Roda de conversa sobre o documentário Vozes Negras.

O lançamento do documentário encerrou um dia de reflexões e de mobilização para o combate ao racismo em todas as suas formas, especialmente em um contexto gaúcho que tem sua própria dinâmica histórica de resistência negra.

Leia mais:

6º Fórum Aberto de Educação Antirracista acontece nesta sexta-feira, no Plenário do TRT-RS.


Fórum Antirracista: atividades da manhã abordam o racismo estrutural e ambiental.


Fim do corpo da notícia.
Fonte: Texto de Rafael Scherer e Eduardo Matos (Secom TRT-RS) - Fotos de Guilherme Lund
Tags que marcam a notícia:
EquidadeCapacitaçãoHorizonte
Fim da listagem de tags.

Últimas Notícias