Artigo: "Novos tempos", de autoria da juíza do Trabalho Aline Doral Stefani Fagundes
Texto originalmente publicado no jornal Zero Hora, edição de 30 de junho de 2020
De 6 a 10 de julho a Justiça do Trabalho realizará sua tradicional Semana Regional da Conciliação. Porém, diferentemente do cenário clássico dos outros anos, em que os corredores e saguões ficavam cheios e agitados, nossos prédios continuarão calados e escuros. A campanha terá lugar no ambiente virtual, por meio de audiências 100% telepresenciais.
Desde a adoção das medidas de prevenção e enfrentamento à pandemia de COVID-19, que instituiu o trabalho exclusivamente remoto, estamos realizando audiências telepresenciais. Recursos de videoconferência já eram utilizados, sobretudo nos Centros de Conciliação, no entanto apenas para integrar um ou dois participantes que não podiam se deslocar à unidade judiciária. Atualmente, uma sala virtual reúne todos os participantes, cada um de seu lugar, na maior parte das vezes, de suas casas.
Foi uma mudança de paradigma veloz e radical. Num primeiro momento, houve uma certa resistência. O receio com a ferramenta, somado à dificuldade de reorganizar a vida para realizar uma audiência de casa freou a adesão ao novo formato. Tudo isso, em plena crise econômica, com credores precisando mais do que nunca de seus créditos e devedores com receitas abaladas.
Debate-se uma série de preocupações com o que esperar desses novos tempos, pois há práticas que vieram para ficar. Olhares mais pessimistas vislumbram o trabalho frio e impessoal de docas de teleatendimento centralizando a realização de audiências. Mas a prática está nos mostrando algo absolutamente inverso: a humanização do ato com a recíproca tolerância, compreensão e até uma certa doçura no eventual ingresso de uma criança no vídeo, o latido do cachorro ao toque da campainha e a própria forma mais descontraída de se vestir, gerando aproximação e acolhimento.
São novos tempos, novas rotinas, novos padrões.
Aline Doral Stefani Fagundes
Juíza do Trabalho, supervisora do Cejusc 2º Grau do TRT-RS.