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Publicada em: 09/07/2019 15:42. Atualizada em: 09/07/2019 15:45.

Pesquisador norte-americano fala sobre saúde e segurança no trabalho dos mineiros do Rio Grande do Sul em evento na Escola Judicial

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Cody Williams

O Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS) promoveu, no último dia 3 de julho, uma roda de conversa intitulada "Sacrificando o Ritmo Vital do seu Organismo: Saúde, Deficiência e Resistência dos Trabalhadores". O evento teve como convidado o pesquisador norte-americano Cody Alexander Williams. A atividade ocorreu na Escola Judicial do TRT-RS e contou com a participação de servidores com e sem deficiência, interessados na temática do autor. 

Williams, que tem paralisia cerebral e passou por 19 intervenções cirúrgicas na infância, fez faculdade na Georgetown University, onde desenvolveu estudos latino-americanos com ênfase na história, sociologia e relações internacionais do Brasil e do México do século XX. Ganhou a bolsa Leibowitz para inovação social e estudou a língua portuguesa no curso de verão da Middlebury College. Posteriormente, fez mestrado "sanduíche" no Departamento de História da UFRGS como pesquisador vinculado e terminou o mestrado na Universidade de Oklahoma, em maio de 2019. Pesquisa a história dos mineiros do carvão no RS e a luta para um sistema de saúde e previdência social adequado, de 1942 a 1964. Especificamente, traça a luta de trabalhadores que adquiriram doenças crônicas de todo tipo e/ou feridas físicas permanentes, dentro e fora da Justiça, tanto em processos comuns como nos relacionados ao trabalho, quanto em ações diretas do sindicato.

Em sua participação na roda de conversas, o pesquisador destacou que as condições de trabalho dos mineiros no Rio Grande do Sul eram muito precárias, sobretudo porque as minas fizeram parte do chamado esforço de guerra, contexto em que a produtividade era considerada mais importante que a segurança no trabalho. O resultado desse entendimento, segundo o historiador, é que nos anos de 1943 e 1944 o número de acidentes de trabalho nas minas mais que dobrou, e a taxa de mortalidade aumentou significativamente, ou seja, além dos acidentes terem aumentado, também tornaram-se mais letais.

Os principais problemas de saúde gerados pelo trabalho nas minas, como apontou Cody, eram as doenças pulmonares, como a silicose, causada pela inalação de pó de sílica e poeira de carvão. Alguns processos com pedidos de adicional de insalubridade foram ajuizados na época, mas o pesquisador afirma que os instrumentos utilizados nas perícias para aferir a insalubridade eram muito imprecisos e, portanto, na prática, os empregadores dos mineiros não controlavam o nível de inalação e de toxicidade a que os trabalhadores estavam expostos. Além dessas doenças, o pesquisador apontou a presença de diversas deficiências entre os trabalhadores, como a visual (problemas sérios de visão), a física (perda de membros), a neurológica (epilepsia e outras enfermidades), dentre outras.

Esse panorama fez com que, na greve realizada pelos mineiros em 1945, a maioria das demandas fossem relacionadas à doenças e segurança nos locais de trabalho. "Isso mostra que nós, historiadores do trabalho, precisamos expandir nosso olhar quanto à amplitude do que significa o trabalho", avaliou.

Greve maior ocorreria em 1946, com cerca de 1,5 mil grevistas. Destes, segundo Cody Williams, cerca de 20% possuíam algum tipo de deficiência. A paralisação durou 36 dias e afetou tanto a produção como o transporte de carvão até outras cidades, como Porto Alegre. A capital, como informou o pesquisador, ficou parada pela ausência da energia gerada pelo carvão, e o comércio também foi afetado pela paralisação dos meios de transporte. A partir dessa greve, os mineiros intensificaram suas lutas quanto ao recebimento de pensões e aposentadorias, bastante negligenciadas em contextos anteriores.

Apesar das mobilizações crescentes, as condições de trabalho dos mineiros continuariam precárias, com avanços apenas nos anos 60, quando, por exemplo, os trabalhadores puderam tornar-se donos das suas moradias, desfazendo-se um dos pontos de pressão utilizados pela empregadora para que os empregados não ajuizassem processos, ou seja, a possibilidade de perderem suas casas fornecidas pela empresa.

Com a instituição da Ditadura Militar em 1964, como explicou o pesquisador, há uma pressão por parte dos militares para que a empregador quite suas dívidas com os trabalhadores, por medo de mobilizações que poderiam gerar descontrole no interior do Rio Grande do Sul. Com os pagamentos, a empregadora "quebra" e outra empresa assume o controle das minas.

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Fonte: Juliano Machado (Secom/TR4)
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