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Publicada em: 23/04/2019 10:36. Atualizada em: 09/05/2019 17:28.

Exposição “Percursos da Arte: Prisão, Saúde e Trabalho” entra em cartaz no saguão do TRT-RS

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22-expo-810p.jpgA exposição “Percursos da Arte: Prisão, Saúde e Trabalho” foi inaugurada nesta segunda-feira (22/4) no saguão do Prédio-Sede do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (Av. Praia de Belas, 1.100). A mostra foi concebida especialmente para ser exposta na Justiça do Trabalho gaúcha e reúne quadros e esculturas de dois projetos: o “Artinclusão”, que estimula internos do Instituto Psiquiátrico Forense a se expressarem na pintura, e o "Direitos Humanos na Prisão", que promove ações de inclusão e reinserção para apenados da Cadeia Pública de Porto Alegre (antigo Presídio Central). A cerimônia de inauguração contou com debates sobre o tema, com a participação da psicóloga Gislei Domingas Romanzini Lazzarotto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e do juiz Luciano André Losekann, titular da Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas. As obras também estão expostas no Foro Trabalhista de Porto Alegre (Av. Praia de Belas, 1.432) e podem ser visitadas até o dia 31 de maio.

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Na abertura da cerimônia, o desembargador João Paulo Lucena, presidente da Comissão de Cultura do TRT-RS, ressaltou a importância dos projetos e da mostra. “Essa iniciativa visa a chamar a atenção para temas de grande relevância social: o trabalho do preso e do interno, a saúde física e psíquica, o combate ao preconceito e à marginalização do indivíduo, e a sua reinserção na sociedade por meio da ação transformadora da expressão artística”, comentou.  

A juíza Carolina Hostyn Gralha, presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região (Amatra IV), elogiou a qualidade da exposição. “Quando vemos os quadros e esculturas desses artistas, percebemos que o que falta para muitos é a oportunidade. Vocês nunca vão deixar de receber o olhar da Justiça do Trabalho e da Amatra IV, porque esta é a Justiça social, que é tão atacada mas que está sempre de braços abertos para receber iniciativas como esta”, declarou. 

“Direitos Humanos na Prisão” e “Artinclusão”

O sociólogo Celso Rodrigues, que desenvolve o projeto “Direitos Humanos na Prisão” na Escola de Artes da Cadeia Pública de Porto Alegre, destacou o valor do espaço do TRT-RS para a exposição. “Este é um local onde os artistas podem ser olhados, sair da sua invisibilidade. Ao olhar esses trabalhos, olhamos para nós mesmos, para aquilo que fizemos com a nossa humanidade”, comentou. Nesse projeto, surgiram as esculturas do artista Elvis Esteves, produzidas a partir de sucatas apreendidas pela Polícia em desmanches. Em seu pronunciamento, Elvis agradeceu a chance de mostrar suas criações. “Há esperança quando há oportunidade. O trabalho é importante para a ressocialização, transformou a minha vida e a de muita gente”, declarou. 

O professor e artista plástico Aloizio Pedersen, coordenador do projeto “Artinclusão” no Instituto Psiquiátrico Forense, ressaltou o ineditismo da iniciativa. “Esta é a única exposição do mundo com obras provenientes de manicômios judiciais”, observou. Na mostra, há quadros de acrílica sobre tela com releituras de obras clássicas do Modernismo brasileiro, feitos por internos que têm transtornos mentais e cumprem medida de segurança no IPF. Durante a cerimônia de inauguração, os internos Cléber e Edo falaram ao público sobre os artistas que inspiraram seus trabalhos. As obras do “Artinclusão” foram expostas em seis instituições acadêmicas de Portugal em janeiro deste ano. 

Debate

Durante o painel, o juiz da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, Luciano Losekann, e a professora Gislei Domingas, do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), falaram sobre a importância – tanto do ponto de vista jurídico quanto do psicológico - dos projetos Artinclusão e Direitos Humanos na Prisão, que compõem a exposição. Eles também falaram sobre políticas de reinserção e a questão do encarceramento no Brasil.

Para o juiz Losekann, essas iniciativas são transformadoras para aqueles que têm a oportunidade de participar. Na visão do magistrado, a arte como forma de reinserção é uma maneira potente de se comunicar e “colocar pra fora” sentimentos ruins. “Esse 'colocar pra fora' é absolutamente essencial para um projeto de reinserção social. Sem isso não se faz absolutamente nada”, argumentou. O juiz também apontou para a necessidade de mais projetos como os trazidos ao TRT-RS. O Estado, na sua visão, dificulta iniciativas nesse sentido. Ele avaliou o projeto “Percursos da Arte” como uma luz no fim túnel e afirmou que ações assim deveriam ser transformadas em política pública, de Estado. “São pouquíssimos projetos nesse sentido que tem destaque no Brasil. São sempre iniciativas isoladas de uma pessoa ou de um pequeno grupo”, criticou.

Em sua fala, a professora Gislei chamou atenção para o que apelidou de “roteiro de criminalização”, que tem cor e idade no Brasil: jovens pobres e negros morrem a cada dia e cada vez mais. E são eles, também, que acabam lotando as celas das prisões. É preciso, na opinião de Gislei, repensar a política do encarceramento e passar a ver a sociedade como corresponsável pelo processo de reinserção social. “Aprender a trabalhar também significa receber, depois, essa pessoa para trabalhar num local”, afirmou a professora. Ela também criticou a distância que, apesar de pequena fisicamente, separa as pessoas das instituições de privação de liberdade, como cadeias e manicômios: “Passamos pelas ruas e não pensamos como estão ali, como estão dormindo, como estão comendo. Quem é esse outro? E por que precisamos tanto isolar as diferenças?”, questionou. “Essas vidas têm histórias, são bem mais do que o aprisionamento – e talvez o aprisionamento não seja só de quem está atrás das grades, mas também de nossas consciências e de nossas relações”, concluiu.

Ao final do evento, o sociólogo Celso Rodrigues, coordenador do projeto Direitos Humanos na Prisão, lembrou que todas as obras expostas no TRT-RS estão à venda e que o dinheiro será revertido para os artistas. Embora comercializadas, as obras, segundo ele, não tem o intuito de serem apenas produtos, mas trabalhos. “Estamos no Tribunal Regional do Trabalho falando sobre trabalho”, apontou. Nas palavras de Celso, só coisas que não têm preço - como obras de arte produzidas por internos do Instituto Psiquiátrico Forense ou detentos da Cadeia Pública de Porto Alegre - é que têm valor de verdade. Aloízio Pedersen, artista plástico responsável pelo projeto Artinclusão, lembrou uma fala do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos durante uma passagem da exposição pela Europa: “estamos diante de uma beleza marginalizada”. 

As obras ficarão expostas na Justiça Trabalhista da Capital até o fim do mês de maio. Elas podem ser visitadas de segunda a sexta, das 10h às 18h. A entrada é gratuita. A primeira parte da exposição foi inaugurada em 15 abril, no Foro Trabalhista de Porto Alegre. Leia aqui.

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Fonte: Leonardo Fidelix e Guilherme Villa Verde (Secom/TRT4)
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