Imagem com o número 100 junto ao símbolo do sistema PJe

Publicada em: 09/11/2018 18:43. Atualizada em: 12/11/2018 15:51.

Discussões sobre identidade, exposições livres e apresentação de poesias marcam tarde do 1º Encontro de Servidores Negros do TRT-RS

Visualizações: 50
Início da galeria de imagens.
Imagem com alguns participantes em uma roda de discussão durante o evento
Fim da galeria de imagens.
Início do corpo da notícia.

As atividades do período da tarde do 1º Encontro de Servidores(as) Negros e Negras do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS) compreenderam apresentações acadêmicas, artísticas e com roda de conversas em formato de plenária. O evento ocorreu na última quinta-feira (8/11) no Auditório Ruy Cirne Lima da Escola Judicial e foi promovido pelo Comitê de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT-RS, pelo Coletivo de Servidores Negros do TRT-RS e pela EJud4. Leia também matéria da Secom sobre atividades da programação ocorridas no período da manhã: 1º Encontro de Servidores Negros do TRT-RS mobiliza Justiça Trabalhista.

Acesse o álbum de fotos do evento.

Uma mesa redonda intitulada "O que é Identidade? Uma análise a Partir da Filosofia Africana" deu início à programação da tarde. Para a atividade, estiveram presentes Gerson Fernando Bicca Rangel, pesquisador e estudioso da africanidade do Egito e importância do nome na Cultura Jufuri, e Katiuscia Ribeiro, doutoranda em Filosofia Africana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do grupo de Pesquisa Afroperspectivas, saberes e Interseções, de estudos de filosofia africana.

Em sua participação, o pesquisador Gerson Rangel fez referência aos seus estudos na universidade sobre a formação do nome como elemento importante para a construção da identidade dos negros no Brasil. Segundo ele, nas culturas africanas o nome traz elementos que identificam região de origem, etnia e linhagens familiares, ou até mesmo aspectos ligados à gestação e ao nascimento da criança. Ao serem trazidos à força para o Brasil, os negros perderam seus nomes e, por conseguinte, suas identidades, o que, dentre outros elementos, contribuiu para tornar muito difícil a construção da identidade africana no país.

O pesquisador também citou três livros que enfocam o tema da construção da identidade negra no Brasil e sobre filosofia africana do Egito antigo: A Construção Social da Cor, de José D'Assunção Barros, e O Caibalion e Aurora Egípcia, sobre a filosofia do Egito dos tempos dos faraós.

Já a filósofa Katiuscia Ribeiro iniciou sua explanação afirmando que a luta na filosofia é contra o que ela chama de racismo epistêmico, ou seja, o fato de que toda a filosofia reconhecida é baseada no pensamento ocidental e ignora outras formas de construção do conhecimento e de civilizações, como a filosofia Kemética (Kemet é o nome antigo do Egito). Nesse sentido, é preciso combater a ideia de que o pensamento crítico nasce na Grécia e não existe nada fora dessa corrente, porque essa perspectiva é um dos pilares de dominação de povos considerados "não racionais". Se "quem pensa existe", raciocinou a estudiosa, "pode-se negar a humanidade a todos os povos que não entram nessa racionalidade, ou que sejam alicerçados na sensibilidade. Esses povos podem ser dominados. São os povos africanos", explicou.

O modelo ocidental, segundo a filósofa, é universalizante e castrador, porque tem como fundamento o fato de que suas premissas são universais, representam "o mundo". Assim, modelos de família, espiritualidade ou de Justiça, baseados nesse sistema, são considerados universais, sem levarem em conta o fato de que existem "outros mundos  no mundo". "Não se conhece a Justiça do antigo Egito, por exemplo", destacou Katiuscia. "O pensamento ocidental é insuficiente para dar conta do sujeito como um todo", avaliou.

Para a estudiosa, então, o desafio é pensar em um modelo verdadeiramente universal, e não universalizante, capaz de englobar todos os sujeitos. "Quando uma pessoa branca morre há uma comoção nacional, porque aquela humanidade precisa ser preservada. Mas o genocídio dos negros, que ocorre todos os dias, não toca, porque é uma humanidade que não precisa ser protegida", exemplificou. "Devemos, em vez de nortear nosso pensamento, sulear nosso pensamento, para enxergar a realidade africana", sugeriu.

Isso porque, como explicou Katiuscia, a racionalidade não é o único elemento dos sujeitos. Civilizações baseadas na ordem do sensível também devem ser contempladas e reconhecidas, para que não se privilegiem sempre os mesmos corpos, para que a supremacia branca não seja sempre a predominante. Nesse sentido, como observou uma das mediadoras da apresentação, servidora Roberta Liana Vieira, é preciso ir além da premissa Cartesiana "penso, logo existo" e contemplar também a perspectiva que diz "sinto, logo penso".

Após as apresentações de Gerson Rangel e Katiuscia Ribeiro, foram abertos os microfones para participação do grande grupo reunido no auditório. O objetivo foi a integração entre os participantes e a exposição de demandas e sugestões livres. Nas falas, surgiram observações sobre racismo institucional, necessidade de discussões sobre a questão das cotas instituídas pelo TRT-RS para candidatos negros nos concursos, momento político por que passa o país, dentre outros temas. No final da rodada de intervenções, os palestrantes do evento também fizeram suas considerações finais.

Slammers

O 1º Encontro de Servidores(as) Negros e Negras do TRT-RS foi encerrado com alta qualidade poética. Estiveram presentes os slammers Cristal da Rocha e Janove. Eles apresentaram poesias próprias e contaram suas histórias nesse novo gênero artístico de veiculação de poesia.

Trata-se, em linhas gerais, de campeonatos de poesias faladas, em que um slammer interpreta um texto próprio, geralmente dentro do tempo de três minutos, e é avaliado por jurados. Quem tiver as notas maiores na competição, vence. O gênero nasceu em Chicago, nos Estados Unidos, na década de 80, ao mesmo tempo em que tomava força a cultura Hip Hop. As poesias são interpretadas sem qualquer acompanhamento cênico ou musical, embora possam existir elementos musicais como ritmo ou entonação na forma de "falar" a poesia.

Nas apresentações de suas poesias, Janove e Cristal da Rocha falaram sobre racismo, objetificação do corpo negro, vivência na periferia, perspectivas de vida, dentre outros diversos assuntos.

Veja neste link a slammer Cristal da Rocha apresentando uma das poesias interpretadas no encerramento do evento. E aqui uma matéria do Nexo Jornal sobre os slams, com vídeos de diversos slammers interpretando seus poemas.

Fim do corpo da notícia.
Fonte: Texto: Juliano Machado; fotos: Álvaro Lima - Secom/TRT4
Tags que marcam a notícia:
institucional
Fim da listagem de tags.

Últimas Notícias

Mão branca segurando três formas humanas ao lado esquerdo do texto: Trabalho Seguro Programa nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho Criança desenhando arcos verde e amarelos em fundo cinza ao lado esquerdo do texto: Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estimulo à Aprendizagem Texto branco sobre fundo cinza: PJe Processo Judicial Eletronico 3 arcos laranjas convergindo para ponto também laranja em canto inferior direito de quadrado branco, seguidos pelo texto: execução TRABALHISTA Mão branca com polegar riste sobre círculo azul ao lado esquerdo do texto: Conciliação Trabalhista