Artigo: "A desigualdade de gênero no serviço público", de autoria da servidora Angie Miron

Texto publicado no jornal Zero Hora, edição de 11 de março de 2024.
Apesar de maioria, as mulheres no serviço público estão concentradas em ocupações menos valorizadas. Sob a influência de estereótipos de gênero, atribui-se a elas a responsabilidade por atividades ligadas ao cuidado e observa-se a desigualdade salarial, com maior remuneração às carreiras majoritariamente masculinas. Reproduz-se a divisão sexual do trabalho, semelhante ao que ocorre no setor privado, em uma segregação horizontal entre homens e mulheres.
A sobrecarga com serviços domésticos se intensifica nas fases da vida da mulher em que lhe é exigido o cuidado com filhos, pais e parentes. Mulheres estão em desvantagem na preparação para concursos para carreiras mais bem remuneradas e, quando já ocupam cargos e empregos públicos, têm dificuldade de progressão por merecimento, de acesso a cargos de chefia, direção e assessoramento, bem como de manter a posição. O tempo para a qualificação é escasso ou inexistente.
Os estereótipos de gênero associam homens a características de liderança, força e racionalidade. Mulheres são estigmatizadas como dóceis, menos inteligentes e sensíveis. Esses estereótipos podem favorecer homens em cargos de liderança, prejudicar o avanço das mulheres e excluí-las das decisões organizacionais. Persistem crenças equivocadas de uso da sexualidade para avanço na carreira, bem como práticas de descrédito, apropriação de ideias e assédio (moral e sexual). Mulheres negras enfrentam estereótipos mais acentuados, com discriminações que incluem falta de reconhecimento de suas competências e ocupação simbólica de cargos para atribuir um selo de inclusão à instituição.
A despeito de habilidades equivalentes ou superiores às dos homens, é menor a velocidade com que as mulheres ascendem na carreira, com sub-representação em cargos de liderança. São urgentes medidas que enfrentem a sobrecarga financeira e de trabalho das mulheres, a exemplo do aumento da licença-paternidade, do número de creches, de duração do auxílio escolar e de educação antirracista.
Angie Catiuscia Costa Miron
Servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS), representante das mulheres no Comitê de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade