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Publicada em: 25/10/2023 15:29. Atualizada em: 25/10/2023 17:14.

"Ler e escrever é desenvolver humanidade", afirma escritor José Falero em evento da Escola Judicial

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José Falero

O escritor porto-alegrense José Falero foi o segundo participante do ciclo de encontros "O que a Literatura tem a oferecer ao Direito?". Autor de dois livros de contos ("Vila Sapo" e "Mas em que mundo tu vive?") e um romance ("Os Supridores"), ele conversou com magistradas e servidoras na última quinta-feira (19/10), no auditório Ruy Cirne Lima da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS). No bate-papo, Falero fez reflexões sobre o seu trabalho literário e sobre as experiências sociais retratadas em suas obras, que dizem respeito, na maioria dos casos, a pessoas que vivem nas periferias de Porto Alegre.


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WhatsApp Image 2023-10-25 at 15.07.24.jpegSegundo a constatação do escritor, tudo que ocorre de ruim em uma cidade acontece primeiro nas periferias. "Com a pandemia foi assim", ressaltou. Por outro lado, o que as cidades têm de bom ocorre primeiro nas regiões centrais e, eventualmente, chega em algum momento às periferias. Essa conclusão lhe ocorreu a partir da experiência de morar no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, após nascer e viver os primeiros anos de vida no bairro Lomba do Pinheiro, também na Capital. 

"Quando fui para a Cidade Baixa eu fiquei espantado com aquele mundo, um mundo totalmente diferente do meu", relembra. "Estudei meus primeiros anos em uma escola desse bairro e depois voltei para uma escola da 'Lomba'. Fiquei chocado com o jeito em que as crianças eram tratadas. A humanização das crianças, o jeito respeitoso, também chega antes às regiões centrais", observa.

WhatsApp Image 2023-10-25 at 15.09.04.jpegComo avalia Falero, a negação da infância é um dos aspectos de desumanização das pessoas da periferia, em conjunto com outras privações, como educação e lazer. "A gente é obrigado a amadurecer muito rápido, porque a sociedade não vê ali uma criança, mas sim um projeto de marginal, uma pessoa já perigosa", enfatiza. "Minha namorada é mais velha e toma remédios para pressão alta, então, outro dia, ela estava pensando 'se meu irmão e outros familiares já morreram, a próxima pode ser eu'. Eu fiquei chocado, porque eu penso isso desde os meus 12 anos", conta.

Mundo do Trabalho

Como aspecto central de quem precisa trabalhar muito para sobreviver, as relações trabalhistas aparecem de forma marcante nas obras de Falero. Segundo ele, ainda é necessário lutar pelo básico, pela implementação da própria Constituição. "Se ainda precisamos tratar disso, quando conseguiremos debater melhores condições de trabalho para as pessoas?", questiona. 

WhatsApp Image 2023-10-25 at 15.10.56.jpeg"Para cada notícia de trabalho escravo, existem centenas de casos não noticiados", frisa, ao lembrar de uma conversa que teve durante uma viagem de ônibus que fez entre Fortaleza e São Paulo, na qual dois trabalhadores afirmaram que, na época da pandemia, os patrões simplesmente sumiam quando havia suspeita de Covid. "Deixavam eles sem nada, não respondiam mensagens, eles precisavam vender roupas, celular, tudo, pra conseguirem passagens para voltar pra casa", relata, em uma situação classificada pelo escritor como chocante, até para quem está acostumado com experiências de precariedade.

"Fui despedido por justa causa em todos os empregos que tive", afirma. "Isso acontece porque, para cada 100 trabalhadores despedidos assim, uns 40 procuram a Justiça, e isso então compensa para os empregadores", avalia. Ao pensar sobre o que a Literatura teria a oferecer ao Direito, me veio à cabeça a música de Bezerra da Silva que diz 'meu bom juiz, não bata esse martelo nem dê a sentença antes de ouvir o que meu samba diz, pois esse homem não é tão ruim quanto o senhor pensa'". A canção, que relata uma situação de julgamento de um traficante do morro do Juramento, no Rio de Janeiro, está no álbum "Alô Malandragem Maloca o Flagrante", de 1986.

Envie sugestões para próximas edições do evento

WhatsApp Image 2023-10-25 at 15.13.11.jpegO ciclo de encontros "O que a Literatura tem a oferecer ao Direito" é organizado e mediado  pelas juízas Maria Teresa Vieira da Silva (27ª VT de Porto Alegre) e Daniela Floss (1ª VT de Caxias do Sul), e pelo juiz Oscar Korst (TRT-SC). Os magistrados convidam o público a sugerir nomes de escritoras e escritores para as próximas edições do evento, que serão retomadas em 2024.

As sugestões podem ser enviadas para os seguintes e-mails: maria.vieira@trt4.jus.brdfloss@trt4.jus.br ou oscarkrost@hotmail.com


Maria Teresa
Maria Teresa Vieira
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Daniela Floss
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Oscar Korst
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Fonte: Texto de Juliano Machado e fotos de Guilherme Villa Verde (Secom/TRT-4)
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