Imagem com o número 100 junto ao símbolo do sistema PJe
Publicada em: 22/11/2022 16:24. Atualizada em: 23/11/2022 15:15.

Depoimento: "Todos temos que nos responsabilizar pela saúde do nosso país e das nossas crianças", afirma servidora do TJRS que teve poliomielite

Visualizações: 708
Início do corpo da notícia.

Denise Duarte BrunoDenise Duarte Bruno tem 63 anos e adquiriu poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, quando tinha um ano de idade. Ela é assistente social, com mestrado e doutorado em Sociologia, e também servidora aposentada do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS).

Na época em que pegou a doença, as vacinas não eram distribuídas na rede pública. No entanto, a partir de um trabalho de sucessivos governos, o Brasil chegou a erradicar a doença nos anos 90, com 95% de cobertura vacinal naquele momento. Atualmente, porém, essa cobertura atinge pouco mais de 50%. Tudo indica que a polio está de volta no país. Já foi registrado um caso em uma criança do Pará.

Com o objetivo de alertar para a importância da vacinação, a servidora ofereceu um depoimento sobre sua trajetória pessoal no início da sessão de julgamento da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS) do dia 16 de novembro. Além de contar parte da sua história, Denise chamou atenção para diversos aspectos relacionados à poliomielite, bem como para uma doença associada chamada síndrome pós-polio.

Leia, no texto abaixo, parte do depoimento e confira a íntegra da participação em vídeo, por meio de link ao final dessa matéria. Os trechos foram levemente editados, mas preservam o sentido das falas da servidora.

"Tenho 63 anos. Em 1960 eu morava em Avaré, São Paulo. A vacina não era distribuída pela rede pública. Meus pais chegaram a encomendar a vacina, mas quando chegou eu já estava com febre e com todo o meu corpo paralisado da cintura para baixo. Fiquei com sequelas, uso um aparelho na perna direita e também tenho limitações na perna esquerda.

Na mesma cidade em que eu morava houve 11 casos, na mesma semana que o meu. Fui um dos menos graves. Meus pais conseguiram me transportar até o Hospital Beneficência Portuguesa, na cidade de São Paulo, onde fiquei internada durante três meses para tentar recuperar parte dos meus movimentos. Meus pais continuaram me proporcionando todo o atendimento possível. Fiz Serviço Social, vim para o Rio Grande do Sul, fiz mestrado, doutorado, uma vida praticamente normal, a não ser o aparelho na perna direita.

Por volta dos meus 50 anos, comecei a ter uma série de limitações que antes eu não tinha. Fui diagnosticada com depressão, tudo que eu fazia me cansava, não tinha mais prazer em dar aulas ou participar de congressos, e aí descobri uma doença associada à polio, a síndrome pós-polio. É o resultado do estressamento e da morte dos brotos de neurônios que o corpo produz para tentar substituir os neurônios que a polio mata.

Eu nunca fui próxima dos movimentos de pessoas com deficiência, mas a síndrome me trouxe a consciência de que existe uma série de limitações não levadas em conta em diversas instâncias. A partir disso, comecei a me aproximar desses movimentos. Ainda mais agora, com a volta da polio e com esse cenário assustador: uma baixíssima cobertura vacinal no Brasil.

É muito importante falar para a magistratura, porque parece que precisamos discutir questões legais associadas à obrigatoriedade da vacina. Também tenho verificado a dificuldade que as pessoas estão tendo para conseguir benefícios por causa da síndrome pós-polio. Pensam que é a própria polio, mas não é. Gostaria de chamar atenção para isso.

Meus pais conseguiram me criar tratando da minha sequela como se fosse uma doença como diabetes, algo que não impedia minha vida. Mas a síndrome pós-polio interrompeu minha carreira. Tive que adotar uma muleta, tomar remédios para a fadiga, porque a fadiga na pós-polio é muito séria. Vejo pessoas ao meu redor com problemas respiratórios, com dores...

Todos precisamos nos responsabilizar pela saúde do país e das nossas crianças. Não gostaria que nenhuma criança passasse pelo que eu passei, precisasse usar um aparelho, ficasse meses internada, perdesse anos de escola, por uma doença totalmente evitável."

Saiba mais sobre a doença neste linkAbre em nova aba.

Assista a seguir a íntegra do depoimento da servidora:

Fim do corpo da notícia.
Fonte: Juliano Machado (Secom/TRT-4).
Tags que marcam a notícia:
vida saudável
Fim da listagem de tags.

Últimas Notícias