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Publicada em: 22/11/2019 12:08. Atualizada em: 02/12/2019 17:01.

Fórum Antirracista: Ex-árbitro Márcio Chagas fala de situações de racismo que sofreu no futebol e militante Ariele Lima relata dificuldades dos negros na sociedade e no Direito

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Foto aberta do palco, mostrando, sentados, Adriane, Márcio, Roberta e Ariele.
Adriane, Márcio, Roberta e Ariele
Ariele Lima
Ariele Lima
Márcio Chagas da Silva
Márcio Chagas da Silva
Adriane Becker
Adriane Becker
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O primeiro painel do I Fórum Aberto de Educação Antirracista do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-RS), ocorrido nessa quinta-feira (21/11), foi intitulado "Por que ser antirracista". A atividade, que aconteceu no Auditório Ruy Cirne Lima, do Foro Trabalhista de Porto Alegre, contou com a participação de Ariele Rodrigues de Oliveira Lima (mulher preta, cantora, escritora, militante no Coletivo Alicerce e no Projeto Negro e Popular e estudante de Direito da UFRGS), Márcio Chagas da Silva (ex-árbitro de futebol, educador físico e comentarista de arbitragem do Grupo RBS), e Adriane Carvalho Becker (servidora da Justiça Federal e integrante do Sintrajufe). A mediação da atividade foi feita pela servidora Roberta Liana Vieira. 

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Ariele falou sobre a sua trajetória de pessoa humilde, que morou sempre na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, e de estudante de escola pública, até saber que poderia prestar o vestibular da UFRGS e concorrer a uma vaga da cota para alunos negros. "Pensei que ao chegar na universidade tudo estaria resolvido. Eu seria uma advogada, uma juíza, utilizaria o Direito para defender o nosso povo. Mas aí descobri que o Direito foi feito também para botar o nosso povo na cadeia", lamentou.

Ela explicou que, ao chegar na universidade, descobriu que a Faculdade de Direito é um "não lugar" para negros. "As fotos são todas de brancos, os formandos são todos brancos. Começa a aparecer um negro em 2005, dois em 2010, um pouquinho mais agora", constatou. "Quando entrei, havia separação de turmas, a do primeiro semestre formada por alunos da ampla concorrência, e a do segundo semestre formada pelos cotistas", informou. "Isso hoje, formalmente, não é mais permitido", complementou.

Ariele avaliou que sempre se faz uma leitura equivocada da participação do negro na sociedade. Como explicou, se o negro não consegue conquistas sociais, a conclusão é de que a regra é essa mesmo, que os negros não têm capacidade. Já se há ascendência social, significa que os negros conseguem o que quiserem, se houver esforço pessoal. "E assim continuamos sendo vistos como objetos, não como seres humanos com qualidades e limitações", concluiu.

A participante destacou três visões sobre o racismo que estão presentes na sociedade. A primeira delas seria encarar o racismo como algo individual, que deve ser combatido no âmbito dos indivíduos como um problema ético e moral. Ela explicou que essa visão é a predominante no Direito.

A palestrante também citou o racismo institucional, ou seja, a diferenciação baseada em raça e acolhida no âmbito de instituições públicas ou corporações privadas, e o racismo estrutural, que consiste na formalização de práticas de discriminação reiteradas historicamente em uma sociedade e em determinado tempo.

Racismo no esporte

O ex-árbitro de futebol Márcio Chagas da Silva compartilhou algumas situações de racismo que sofreu enquanto atuava como jogador de futsal e, posteriormente, como profissional da arbitragem. 

Chagas afirmou que o racismo sempre o acompanhou nos ambientes esportivos. Ele contou que a primeira situação de discriminação que sentiu ocorreu quando tinha 10 anos de idade, durante o treino do time de futebol de salão em que jogava. "O professor perguntou o que devíamos fazer para ganhar do time adversário e eu respondi que devíamos fazer tudo o que foi ensinado durante a semana", relatou. "Ele disse, admirado, que eu era muito inteligente, muito esperto, mas que tinha apenas um defeito... E fez o gesto de coçar a mão. Uma situação de racismo escancarado, por eu ser o único menino negro do time", relembrou.

Quando recém havia ingressado na arbitragem, disse que um "padrinho" o chamou para dar conselhos. Ao chegar na casa do conselheiro, recebeu papel e caneta,  e começou a anotar o que estava sendo dito. "No final, ele pediu minhas anotações para conferir minha letra, porque disse que tinha dúvidas se era eu mesmo quem redigia minhas súmulas no final das partidas", recordou.

Situações de xingamentos e ofensas nos jogos foram comuns na carreira do árbitro, principalmente em estádios da Serra Gaúcha, região em que a população é predominantemente formada por descendentes de italianos e alemães. Mas o fato mais grave sofrido pelo profissional ocorreu em março de 2014.

Na ocasião, segundo Chagas, em um jogo entre o Esportivo e o Veranópolis, na cidade de Bento Gonçalves, os xingamentos começaram já antes da partida, quando ele saiu do vestiário. "Negro macaco, volta para a África, ladrão, negro serve só para adubar a terra", foram alguns dos impropérios. "O jogo transcorreu normalmente, sem qualquer lance polêmico, mas no final torcedores estavam na entrada do vestiário para me xingar", contou. "Tomei meu banho e fui pegar meu carro no estacionamento. As portas estavam amassadas e havia cascas de banana em cima da lataria. Dei o arranque e o carro engasgou duas vezes, até que vi caírem duas bananas de dentro do cano de escapamento", concluiu, desolado.

Essa situação, precedida por um julgamento desfavorável no Tribunal de Justiça Desportiva, em que um advogado afirmou que não era crime chamar um negro de macaco e deu mais importância ao fato do veículo do árbitro ter sido vandalizado, culminou com a saída do profissional dos campos de futebol. "Sofri dois crimes, de injúria e de racismo, e ninguém fez nada. Eu estava acompanhado de policiais e ninguém fez nada", lamentou. "O futebol é um ambiente extremamente racista, o lugar do negro é sempre atrás da goleira, na geral", constatou.

Medidas do Sintrajufe

A servidora Adriane Carvalho Becker destacou diretrizes do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União no Rio Grande do Sul, que devem ser seguidas pela instituição ao longo da gestão atual. Para ela, uma entidade sindical como o Sintrajufe deve ser um instrumento da luta antirracista.

Dentre as medidas, Adriana fez referência à preocupação do Sindicato quanto ao reconhecimento e à manutenção das comunidades quilombolas, especialmente em relação aos sete quilombos existentes na capital gaúcha. Também destacou a criação dos núcleos de servidores negros no âmbito do sindicato, a destinação de ajuda financeira para a promoção da Marcha Zumbi Dandara, a elaboração de cursos sobre etnia e raça pelo Sindicato e a parceria para um evento bianual dos servidores negros no TRT-RS.

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Fonte: Texto de Juliano Machado e fotos de Inácio do Canto (Secom/TRT4)
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