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Publicada em: 22/11/2017 17:49. Atualizada em: 22/11/2017 19:05.

Apresentações artísticas e roda de conversa marcam segundo dia da Semana da Consciência Negra no TRT-RS

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22-2semana1.jpgO segundo dia da Semana da Consciência Negra do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (TRT-RS) foi marcado por apresentações artísticas e debates no Auditório Ruy Cirne Lima. Os eventos são promovidos pelo Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do Tribunal e pelo Coletivo Negros TRT4. 

Acesse aqui o álbum de fotos da Semana da Consciência Negra do TRT-RS

Leia também a reportagem sobre o primeiro dia de eventos. Abre em nova aba

A roda de conversa “O negro no Brasil atual, suas perspectivas e seu lugar de fala” contou com a participação da trabalhadora terceirizada Charlene Barbosa Setubal, da advogada Luana Pereira, da servidora Deise Maria de Araújo Leiria e do juiz Fábio Francisco Esteves. Na abertura dos debates, a mediadora Eliane Margarete da Silva Abreu (integrante do Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade, e representante do Coletivo Negros TRT4) questionou os participantes sobre a trajetória de cada um para chegar à atuação no Poder Judiciário, estimulando a reflexão sobre a presença dos negros nos diferentes espaços sociais.

A advogada Luana Pereira relembrou sua trajetória na Faculdade de Direito da UFRGS, especialmente nos primeiros anos do curso, quando a presença de estudantes negros era rara. “Havia um sentimento de solidão muito forte naquele período, eu sentia falta de enxergar colegas com quem me identificasse. Isso abalou minha auto-estima, inclusive levando-me a ter dúvidas sobre minha capacidade de seguir nessa carreira profissional”. A advogada, que ingressou na faculdade pelas vagas de acesso universal, lembrou que no início do programa de cotas raciais apenas duas vagas eram ocupadas por cotistas negros, em uma turma de 70 alunos. Após o programa de expansão de vagas na universidade, essa realidade foi modificada. “A chegada de mais alunos negros foi essencial para eu seguir em frente e me formar. Eu não me sentia mais só. Foi importante ter com quem conversar sobre os problemas que vivenciava no trabalho, pois em todos os estágios pelos quais passei sofri algum tipo de racismo”, declarou. 

22-2semana7.jpgO juiz de Direito Fábio Francisco Esteves chamou a atenção para o problema do baixo número de negros na magistratura e no Poder Judiciário como um todo. O magistrado, que atua no Distrito Federal, informou que do total de 400 juízes de Direito na ativa em Brasília, apenas cinco são negros. “É necessário que a Justiça seja tão plural quanto a sociedade a que ela serve”, ressaltou. O magistrado também contou histórias de familiares que trabalharam em condições degradantes e foram explorados em grandes latifúndios, e chamou a atenção para a importância da Justiça do Trabalho para combater esses problemas. O juiz afirmou que o racismo é sentido pelos negros cotidianamente, e deu exemplos pessoais para demonstrar o problema. “Há poucos meses fui a um Tribunal em companhia de uma colega para entrevistar juízes sobre o tema do racismo. Quando cheguei de carro, o rapaz do estacionamento me olhou e disse ´Desembarca a magistrada e espera lá fora´”, contou.  Fábio Esteves elogiou a iniciativa dos eventos promovidos pelo TRT-RS e a organização dos próprios servidores para o debate da consciência negra. “A existência de um coletivo de servidores negros na Justiça do Trabalho gaúcha é algo maravilhoso”, elogiou. 

A trabalhadora Charlene Setubal afirmou que o racismo ainda está presente na sociedade, e que sempre teve curiosidade em saber como é o tratamento dispensado pela Justiça do Trabalho em relação aos profissionais terceirizados de serviços gerais. Charlene também comentou já ter trabalhado em outros órgãos públicos, e que sempre aguardou chegar sua oportunidade de atuar no TRT-RS, onde encontra-se atualmente. 

A servidora Deise Maria de Araújo Leiria comentou as mudanças que ocorreram historicamente em diferentes bairros de Porto Alegre. Deise lembrou que em muitos locais da cidade a presença de famílias negras era maior, mas com o tempo elas foram afastadas, o que teve um impacto negativo sobre a identidade cultural dos moradores negros que permaneceram. A servidora também falou sobre seu ingresso no TRT-RS por concurso público e sua trajetória dentro da Instituição. “Hoje estou em uma posição à qual poucos negros tiveram a oportunidade de chegar. Muitos dos meus amigos não tiveram essa chance. Sofremos o preconceito na pele, eu também já senti”, avaliou. 

Teatro e música 

22-semana3.jpgO coletivo Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo apresentou o espetáculo “Os Três Presentes Mágicos”, ao meio-dia. Em um teatro de fantoches intercalado com narração musical, o grupo integra diversos aspectos da cultura negra por meio da arte, música e dança. A peça conta a história da viagem de três irmãos nascidos no Congo, África, e sua viagem em busca de aventuras e uma vida nova. 

Ao longo da trama, os atores interagiram com o público, composto em sua maioria por terceirizados, pedindo opiniões da plateia e convidando as pessoas para baterem palmas e cantarem junto. No final, os membros do grupo agradeceram ao Tribunal pela oportunidade de participar do evento e deixaram o convite para conhecer sua sede, localizada no bairro Cristal, em Porto Alegre. O Quilombo do Sopapo desenvolve intervenções culturais com os jovens da comunidade, estimulando a cidadania, a afirmação dos direitos humanos e a construção de uma cultura sem racismo. 

Em seguida, às 13h, o trio de rap/hip-hop Rafuagi realizou um pocket show. Composto pelos MCs Rafa, Ricky e pelo Deejay Croko, o grupo surgiu há 13 anos, em Esteio (RS), e hoje se consolida como uma das principais referências do gênero rap no Estado. Com cinco álbuns lançados e parcerias musicais com grandes nomes como Emicida, MV Bill, Rappin Hood e Daniel Drexler, o grupo reconhece a importância da luta pela igualdade de raça. 

Entre uma música e outra, Rafa falou das dificuldades enfrentadas pelo povo negro. “Essa luta não é de hoje, e ela não acaba amanhã. Mas só de saber que têm outras pessoas batalhando por uma sociedade mais justa, nos dá força para continuar. Temos que juntar forças”, afirma ele. No final do show, eles agradeceram a parceria do TRT-RS e estenderam um convite para conhecer a nova Casa da Cultura Hip Hop, em Esteio. Idealizada pelos membros do Rafuagi e pela Associação da Cultura Hip Hop da cidade, a iniciativa tem objetivo de oferecer formação cidadã e profissional a partir da ótica da cultura do gênero Hip Hop. A inauguração aconteceu no último dia 11, e contou com a participação da Justiça do Trabalho. 

Ao final do segundo dia de eventos da Semana da Consciência Negra do TRT-RS, o grupo Sopapo Poético realizou a leitura dramática do "Poema Sobre Palmares", de Oliveira Silveira.

Identidade cultural

Os servidores Eliane Abreu e Fabiano Correa, representantes do Coletivo Negros TRT4, ressaltaram a importância dos eventos promovidos durante a semana da consciência negra, mas mostraram-se preocupados com a baixa presença de  público. “Acredito que existe um problema de falta de identificação das pessoas com a cultura negra. Abrimos o espaço para a discussão e todos têm acesso, mas falta o interesse, que precisa ser despertado”, reflete Fabiano. Eliane acrescenta que ainda existem muitos privilégios a serem combatidos para que a sociedade como um todo evolua. “Mais de 50% da população é negra. No entanto, o percentual de negros em certos locais, como no próprio quadro de servidores e magistrados da Justiça do Trabalho, ainda é muito baixo”, exemplifica.

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Fonte: texto de Deborah Mabilde e Guilherme Villa Verde, fotos de Inácio do Canto (Secom/TRT-RS)
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