Seminário ARISE: Psicoterapeuta Ivan Capelatto discute efeitos do trabalho infantil no desenvolvimento das crianças
O psicólogo clínico Ivan Roberto Capelatto abriu o segundo dia do seminário ARISE, que debate o tema “Trabalho Infantil: realidades e superações”. A palestra cativou a atenção de um público diversificado, composto por agricultores familiares do setor de tabaco, procuradores do Ministério Público do Trabalho, educadores, bem como magistrados e servidores do TRT-RS. A apresentação do psicoterapeuta discutiu o tema da proteção das crianças sob dois ângulos.
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Em um primeiro momento, ele questionou o entendimento de que a proteção à criança falha pela fragilidade da lei ou de sua implementação. Para tanto, Capelatto analisou a ideia do “cuidado pelo outro” e as dificuldades de generalização desse cuidado nas relações interpessoais. De acordo com dados que ele apresentou, o medo é um dos mecanismos mais fortemente ativados nas relações de afeto. Esse medo gera, com frequência, situações de raiva e ansiedade com os quais a maioria das pessoas não consegue lidar. A capacidade de reconhecer sentimentos negativos em si próprio depende de um desenvolvimento saudável do sujeito. Sem esse amadurecimento, as pessoas não conseguem se colocar no lugar dos outros e se responsabilizar pelo cuidado deles. O problema levantado por Capelatto é que, segundo testes realizados sobre essas habilidades, apenas 5% da população mundial teria capacidade para esse tipo de reflexão. A dificuldade das pessoas nesse sentido cria um grande obstáculo à adoção de ações sociais que generalizem o cuidado com crianças em situação de vulnerabilidade.
Na sequência da palestra, o psicoterapeuta abordou aspectos do desenvolvimento do sujeito, traçando paralelos acerca da forma como o trabalho infantil impacta no amadurecimento. Utilizando como referenciais as fases de desenvolvimento propostas por Freud e as revisões de Winnicott, ele demonstrou como o esvaziamento do lugar que seria ocupado por um cuidador pode gerar, na criança, a transferência de papeis parentais para figuras de autoridade. Exploradores sexuais, traficantes e usuários de mão de obra escrava (inclusive infantil) são alguns dos papeis que, ao impor uma organização forçada daquela criança, acabam por oferecer um “sentido de pertencimento” do qual ela necessita. Esse contexto cria situações de dependência emocional que privam a criança de autocuidado e autocrítica.
A palestra do psicoterapeuta foi mediada pela magistrada Andréa Saint Pastous Nocchi, juíza auxiliar da Presidência do TRT-RS e integrante da Comissão Nacional do Programa de Combate ao Trabalho Infantil e de Estímulo à Aprendizagem.
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