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Publicada em: 16/11/2022 09:26. Atualizada em: 16/11/2022 10:23.

Exibição do filme "Pureza" foi destaque do 4º Fórum de Educação Antirracista do TRT-4

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Foto de público em primeiro plano e dos debatedores no palco do evento ao fundo.  A exibição do filme "Pureza" lotou o auditório da Escola Judicial do Tribunal Regional do 4ª Região (RS) na última quarta-feira (9/11). O longa-metragem emocionou o público e provocou reflexões sobre o racismo e o trabalho escravo contemporâneo. Após a exibição, ocorreu um debate com o diretor do filme, Renato Barbieri, a advogada Letícia Lemos da Silva, o procurador do Trabalho Lucas Santos Fernandes, e a estudante congolesa Brice Gaelfie Gouaka Bouaha. A mediação ficou a cargo da juíza Mariana Piccoli Lerina, coordenadora do Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade. A atividade integrou a programação do 4º Fórum Aberto de Educação Antirracista do TRT-4, realizado entre 7 e 11 de novembro. 

Acesse o álbum de fotos do evento. 

O filme é baseado na história real de Pureza Lopes Loyola, que tornou-se um símbolo da luta contra a escravidão. Na década de 90, ao longo de três anos, Pureza procurou seu filho, que havia desaparecido ao sair de casa em busca de uma oportunidade de emprego. Durante a jornada, ela encontrou uma fazenda que usava um sistema de aliciamento e cárcere de trabalhadores rurais. Ela passou a trabalhar no local, testemunhando a brutalidade sofrida pelos empregados. A partir disso, além de buscar o filho, Pureza também engajou-se em uma luta contra o trabalho escravo contemporâneo, mobilizando entidades e pressionando o poder público. 

Renato Barbieri
Renato Barbieri

Em sua fala no evento, o diretor Renato Barbieri observou que as quatro formas de trabalho escravo contemporâneo são retratadas no filme: a escravidão por dívida, as jornadas exaustivas, a privação do direito de ir e vir, e o trabalho em condições degradantes. O cineasta comentou que esta ainda é a realidade de milhares de brasileiros e ressaltou que cabe a toda sociedade mobilizar-se para modificar este triste cenário e transformar o Brasil em um país verdadeiramente livre. “Temos que tomar essa consciência e perceber a potência que somos, cada um de nós. Dona Pureza é a prova disso: ela fez a jornada de heroína por noção de justiça, amor, solidariedade, compaixão e empatia”, declarou. 

Renato Barbieri também agradeceu ao Ministério Público do Trabalho e ao TRT da 8ª Região (PA/AP), que destinaram recursos para a produção do filme, provenientes de penalidades aplicadas em uma ação civil pública. O diretor afirmou que as pessoas precisam se “reumanizar”, e que para isso é necessário entrar em contato e se sensibilizar com o drama vivido pelo outro. “Chega da desqualificação do outro, chega de racismo. Temos a missão de construir uma sociedade solidária. A proposta do filme ‘Pureza’ é essa: uma proposta civilizatória”, concluiu. 

Letícia da Silva e Mariana Lerina
Letícia da Silva e Mariana Lerina

A advogada Letícia Lemos da Silva, que já trabalhou na instituição "SOS Racismo", destacou que os ambientes onde as pessoas mais são discriminadas em razão do preconceito racial são os locais de trabalho. Ela ressaltou que o racismo leva a sociedade a desvalorizar a vida de algumas pessoas. Nesse sentido, pela ótica do preconceito racial, a vida de uma pessoa negra passa a valer menos do que a de uma pessoa branca. "Várias vezes me convidaram para sair na rua, para participar de algum protesto, e respondi que não. Porque há 'balas perdidas', e elas sempre procuram o corpo negro", comentou.

A advogada acrescentou que o preconceito de gênero também é um tema importante a ser debatido por estar muito presente no Brasil.  Para exemplificar, relatou um caso de violência doméstica em que atuou. Nele, uma mulher foi assassinada pelo marido porque chegou em casa usando esmalte vermelho, e isso fez ele pensar que estava sendo traído. "A vida da mulher também é menos valorizada", afirmou. Letícia da Silva, ao comentar a história do filme, avaliou que Pureza teve que fazer toda a saga em busca do filho porque o Estado não é presente, e que faltam políticas públicas que atendam as parcelas mais discriminadas da população. "Quero ter a força de Pureza para trabalhar e me manifestar, mas não quero passar pela situação que ela passou, de ter que sair atrás de um filho perdido. É o Estado que tem a obrigação de evitar que isso aconteça", declarou.  

Brice Bouaha
Brice Bouaha

A estudante congolesa Brice Gaelfie Gouaka Bouaha, do curso de Saúde Coletiva da UFRGS, avaliou que o Brasil continua tendo condições difíceis de trabalho. “O filme faz um retrato da história brasileira, tanto em relação ao racismo quanto ao trabalho escravizado”, pontuou. Brice comentou que as pessoas imigrantes saem dos seus países em busca de uma vida melhor, mas que o racismo ainda é um grande obstáculo. “Pessoas negras imigrantes sofrem muito, diariamente. O primeiro problema é que nosso intelecto não é reconhecido. O imigrante negro sai do seu país sendo um médico, advogado ou engenheiro, por exemplo, mas esses anos de estudo não são levados em consideração”, comentou. 

Brice Bouaha também observou que muitos imigrantes acabam recebendo salários menores em comparação a trabalhadores brasileiros que atuam no mesmo cargo, além de serem vítimas da violência. “Vocês já pararam para pensar em quantos imigrantes voltam para seu país de origem dentro de um caixão? Muita gente morre, muita gente desaparece”, declarou.  

Lucas Fernandes
Lucas Fernandes

O procurador do MPT Lucas Santos Fernandes, coordenador regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete), destacou que 82% das pessoas que são resgatadas em condições análogas à escravidão são pretas ou pardas. “O trabalho escravo existe, é real, e geralmente acontece pela submissão do trabalhador a condições degradantes. No Brasil, ele está muito relacionado ao racismo", afirmou. Lucas Fernandes afirmou que a história contada no filme, que remete à década de 90, permanece atual. "A responsabilidade de combater o trabalho escravo é das instituições, mas todos devem ter consciência de que ele ainda existe", declarou.

Lucas Fernandes também observou que o resgate de trabalhadores em condições análogas à escravidão não parou durante a pandemia, e que justamente nos períodos de maior pobreza os casos costumam aumentar, já que as vítimas acabam aceitando qualquer proposta ou acreditando em falsas promessas. Além disso, o procurador lamentou que as instituições que combatem o trabalho escravo atualmente enfrentem problemas, como falta de pessoal e de equipamentos. “As pessoas que se dedicam a essas atividades são muito aguerridas, porque continuam lutando mesmo com todas as dificuldades existentes”, destacou. 

Programação do Fórum 

Logo do Fórum Além da exibição e do debate sobre o filme Pureza, a programação do 4º Fórum de Educação Antirracista do TRT-4 também contou com uma roda de conversa sobre cotas raciais e comissões de heteroidentificação, no dia 7 de novembro, e uma palestra sobre o enegrecimento dos espaços públicos, no dia 11 de novembro. O Fórum é promovido pela Escola Judicial do TRT-4, pelo Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade, pelo Coletivo Negros TRT-4, pela Comissão de Diretos Humanos e Trabalho Decente, e pela Divisão de Sustentabilidade, Acessibilidade e Inclusão.  

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Fonte: Guilherme Villa Verde (Secom/TRT-4)
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