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Publicada em: 01/10/2021 18:36. Atualizada em: 01/10/2021 18:36.

Acessibilidade atitudinal foi o tema da palestra de encerramento do Fórum de Acessibilidade do TRT-RS em 2021

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O Fórum em Defesa da Inclusão, Acessibilidade e Não-Discriminação das Pessoas com Deficiência do TRT-RS foi encerrado na tarde da última quinta-feira (30/9) com uma palestra sobre acessibilidade atitudinal. Para falar sobre o tema, estiveram presentes a advogada e escritora Déborah Prates e a ativista sócio-política Josiane França, integrante do Movimento Brasileiro das Mulheres Cegas e com Baixa Visão e do Movimento Nacional das Pessoas com Deficiência. Ambas são cegas. A mediação da atividade ficou a cargo da servidora Gládis Marques, integrante do Núcleo de Pessoas com Deficiência do Sintrajufe-RS.

déborah.jpgNo início de sua participação, a advogada Déborah Prates ressaltou que a acessibilidade atitudinal está na ordem do indizível, porque mexe com o comportamento e as atitudes das pessoas. No entanto, também observou que, do ponto de vista legal, a modalidade de acessibilidade está contemplada pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU e pela Lei Brasileira da Inclusão. Tais dispositivos legais apresentam barreiras atitudinais como sendo os comportamentos capazes de impedir a participação social plena das pessoas com deficiência, em igualdade com os demais integrantes da sociedade.

A palestrante fez uma reflexão sobre as atitudes enquanto solidariedade, destacando que a construção de um país justo e solidário é um dos objetivos trazidos pela Constituição de 1988. Nesse sentido, para que as atitudes mudem em relação à acessibilidade das pessoas com deficiência, é necessário, segundo Déborah, que haja uma escuta ativa a respeito das questões relacionadas a esse segmento. "É necessário ouvir ativamente para entender os nossos 'ais'", afirmou.

Utilizando-se de uma expressão bastante conhecida da ativista americana Angela Davis, segundo a qual "não é suficiente apenas não ser racista, mas necessário também ser antirracista", a escritora refletiu que o mesmo também é válido para os comportamentos capacitistas da sociedade. "O capacitismo é um gênero da espécie preconceito, aplicado às pessoas com deficiência. É necessário que sejamos anticapacitistas, que mudemos nossas ações e atitudes".

Ao afirmar que o capacitismo joga as pessoas com deficiência para a margem da sociedade, a palestrante falou da sua própria trajetória profissional. Ela atuava como advogada quando foi implementado o Processo Eletrônico na Justiça Estadual do Rio, completamente inacessível para leitores de telas utilizados por pessoas cegas.

Em uma das reuniões do Conselho Nacional de Justiça que discutiram o assunto, um dos conselheiros afirmou que não seria possível devolver a visão aos deficientes visuais, dando a entender que nada poderia ser feito em relação ao assunto. "Os advogados são essenciais para a administração da Justiça, menos os cegos. Eu fui banida da profissão, parei de receber honorários, mesmo com disposições a respeito na Convenção da ONU e na Lei Brasileira da Inclusão", lamentou. "Essa foi a força do capacitismo na minha vida".

Atitudes no mercado de trabalho

josiane.jpgAo complementar as falas da advogada Déborah Prates e refletir sobre a acessibilidade atitudinal no mercado de trabalho, Josiane França afirmou que só passou a perceber a realidade das pessoas com deficiência quando ficou cega. “Estou aqui cega, mas não incapaz. Fiquei cega quando tinha uma filha de oito anos para criar e um recém-nascido. Entrei no hospital grávida e enxergando e saí cega”, contou.

Josiane é modelo e conta que sempre há “um silêncio” quando chega aos estúdios. “As pessoas não sabem o que fazer e eu também não sabia. Não é motivo para vergonha. Perguntem!” As empresas não contratam, segundo ela, porque os empresários pensam que há necessidade de muitas adaptações e custos. “Isso não é verdade, não são precisos muitos ajustes e nós entregamos resultados. É preciso lembrar que as pessoas com deficiência estão na sociedade, trabalham, estudam, fazem doutorado”, disse.

Em relação à política de cotas, ela destacou que não basta a contratação. É necessário dar oportunidade para que a pessoa com deficiência ocupe cargos importantes e tenha chances de crescimento. Josiane citou o ator e cineasta Victor Di Marco: “Inclusão é convidar a pessoa com deficiência para a festa; acessibilidade atitudinal é convidá-la para dançar”. A ativista também comentou a recente classificação da visão monocular como deficiência. “Isso pode ser usado para preencher cotas legais para pessoas com deficiência, tornando ainda mais difícil a contratação de pessoas cegas”, avaliou.

Aprender sobre o tema, ler, conviver, assistir lives seriam algumas dicas da palestrante para minimizar obstáculos. Na prática, ela sugere receber pessoas cegas no ambiente de trabalho explicando a disposição da mobília e eventuais mudanças. Para cadeirantes, considerar sempre as dimensões e espaços necessários nas construções e móveis. “Seria utopia pensar que se pode mudar tudo, acabar com o preconceito e o capacitismo. Mas todos podem ter empatia, imaginar a dor do outro, adotar pequenas atitudes, criar espaços de debate. Peço que vocês se unam nessa luta conosco para que nós sejamos inseridos na sociedade”, concluiu.

juliano.jpg

Em um vídeo na abertura do evento, o servidor Juliano Machado dos Santos, jornalista lotado na Secretaria de Comunicação Social do TRT-RS, deu informações sobre computadores e celulares com softwares de leitura de tela e dicas sobre mobilidade e recepção de pessoas cegas no ambiente de trabalho.

Agradecimentos

ricardo martins costa.jpgNo início da atividade, o diretor da Escola Judicial do TRT-RS, desembargador Ricardo Martins Costa, destacou a importância do Fórum, realizado a cada dois anos na Justiça do Trabalho gaúcha. Ele ressaltou, também, que o evento foi construído de forma coletiva, por um grupo composto por integrantes do Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade, do Núcleo de Pessoas com Deficiência do Sintrajufe-RS e da própria Escola Judicial.

O desembargador agradeceu nominalmente a todos pelo trabalho de organização, contratação e execução das atividades, principalmente à equipe da Escola Judicial, sem a qual um evento tão complexo como esse não seria possível.

O diretor também mencionou que todas as atividades do Fórum aconteceram on-line e com recursos de acessibilidade que contemplam diferentes tipos de deficiência: Língua Brasileira de Sinais e estenotipia (para pessoas com surdez) e audiodescrição (para pessoas cegas ou com baixa visão).

Gladis.jpg

A equipe organizadora do Fórum em Defesa da Inclusão, Acessibilidade e Não-Discriminação das Pessoas com Deficiência do TRT-RS em 2021 contou com a participação e o trabalho dos(as) seguintes servidores(as) e magistradas(os):

 - Alessandra Andrade;

  - Alexandre Zoratto;

  - Clarisse Saccomori Ferraz;

  - Elton Decker;

  - Gabriela Lenz de Lacerda;

  - Gládis Cárita Marques (foto);

  - Juliano Machado dos Santos;

  - Lara Martins;

  - Luisa Bergmann;

  - Márcio Meirelles Martins;

  - Marlene Freitas;

  - Rafael Filla Nunes.

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Fonte: Juliano Machado e Sâmia Garcia (Secom/TRT-RS)
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