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Publicada em: 03/12/2020 20:30. Atualizada em: 04/12/2020 09:50.

Encontro Institucional: "O aspecto mais problemático do ódio é quando se destitui do outro a sua existência", avalia psicanalista Maria Lucia Homem

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maria homem - 810p.jpgO XV Encontro Institucional da Magistratura do Trabalho do Rio Grande do Sul contou, na manhã desta quinta-feira (3/12), com uma palestra da psicanalista, pesquisadora e professora Maria Lucia Homem. Sob o título "Como a disseminação do ódio impacta a vida social e o ambiente de trabalho", a convidada falou a magistrados e magistradas do Trabalho da 4ª Região, por meio de videoconferência. A palestra também foi aberta a servidores e servidoras. O Encontro Institucional da Magistratura segue até esta sexta-feira (4/12), com atividades on-line sempre na parte da manhã.

Ao iniciar sua apresentação, a psicanalista destacou que, ao contrário do que prega o senso comum, o ódio é um afeto tanto quanto o amor, e carrega alguns atributos parecidos, como as grandes paixões, os pactos e o caráter enigmático.

A professora abordou diversas formas com que o ódio foi tratado ao longo da história, a começar pela civilização grega, que considerava o ódio como uma potência, uma força capaz de fazer os guerreiros agirem. Por isso, como ressaltou a palestrante, no primeiro verso da Ilíada Homero já nos avisa que vai "cantar a ira de Aquiles".

Entretanto, os gregos também consideravam que essa força, ao mesmo tempo que era necessária, deveria ser controlada, para que se fizesse o uso dessa potencialidade sem se sujeitar a ela. E a forma que consideravam mais eficaz para garantir o controle seria a alienação, ou, em termos mais contemporâneos, o recalque. "Tapar os ouvidos com cera, ser amarrado para não cair na tentação", ilustrou a palestrante, ao mencionar o mito do canto das sereias, vivido por Ulisses, outro personagem de Homero.

Como explicou a psicanalista, Ulisses nos traz a transição do ódio enquanto ira, impulso, para o emprego da astúcia, do controle. Ou, em outras palavras, nos oferece a indagação sobre se realmente queremos aquilo que desejamos. "Ulisses desejava cair no canto das sereias, mas não queria, porque o seu propósito era chegar no destino com seus marinheiros", esclareceu a palestrante.

Já nos primeiros séculos do cristianismo, segundo Maria Homem, discutiu-se muito o que era bem e o que era mal, sendo que a "corrente de pensamento" que preconizava a repressão das grandes paixões foi a que prevaleceu. Assim, depois de intensas discussões, foram estabelecidos os sete pecados capitais, como forma de prevenção e demonização de tudo aquilo que fazia os homens perderem o controle.

No período renascentista, estabeleceu-se o princípio cartesiano de que a racionalidade é o atributo que diferencia o humano dos demais seres, mas Freud, já no século XX, como ensinou a psicanalista, entendeu que a nossa constituição psíquica não é feita apenas de razão, e que a racionalidade seria apenas "a ponta do iceberg", cuja base seriam as pulsões e o inconsciente. "Se o sujeito não é apenas razão, liberdade, autonomia, o que ele é? É, sobretudo, alguém que nunca sabe de si totalmente, e que vai buscar essa imagem de si refletida no outro", afirmou.

Esse "outro", como esclareceu a palestrante, é múltiplo, e pode nos dizer o que queremos ouvir, sobre "como somos bons, como somos integrados", ou alguém que nos faz ter dúvida disso, que nos faz mergulhar no caos. "O avesso dessa alteridade é o que deve ser reprimido, recalcado, e em última instância, odiado", ilustrou. Assim, para Maria Homem, "o ódio e o amor são dois afetos, ambos ilusórios, ambos ficções, que ajudam o eu nessa busca eterna, de certa forma fadada ao fracasso, de saber quem somos e o quanto valemos".

A título de exemplo, a psicanalista recorreu ao contexto social de um homem branco nos Estados Unidos que estudou bastante, cujos pais tiveram uma situação financeira melhor que a dele e que, hoje, leva uma vida mediana. "O canto da sereia para esse indivíduo é: aquele negro está furando a fila, ganhando mais do que eu, tirando o meu lugar", explicou. "Imaginariamente, ele pensa que o outro tem porque ele não tem".

Segundo Maria Homem, o aspecto mais problemático do ódio é quando negamos ao outro a sua própria existência subjetiva. "A frase direitos humanos para humanos direitos, em que se nega a humanidade para uma parcela da população. Ou quando se questiona se bandido é gente, se merece viver", exemplificou. "Talvez a melhor saída para isso é o antigo 'conheça-te a ti mesmo'. Procure olhar para si e entender o motivo pelo qual você precisa odiar determinado grupo. Pararmos de nos projetar no outro e entendermos quem somos nós pode ser um bom ponto de partida", sugeriu.

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Fonte: Juliano Machado (Secom/TRT4)
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