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Publicada em: 13/11/2020 16:39. Atualizada em: 16/11/2020 14:59.

"O superpoder do brasileiro é o encontro, mas às vezes promovemos o oposto disso", afirma o rapper Emicida em evento do TRT-RS

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Infância, trabalho, pobreza, racismo, afetos, perdas, ganhos, arroz e flores. Estes foram alguns dos temas sobre os quais o rapper paulista Emicida discorreu na tarde da última quinta-feira (12/11), em roda de conversa do 2º Fórum Aberto de Educação Antirracista do TRT-RS.

A atividade foi aberta ao público e transmitida pelo canal da Escola Judicial do TRT-RS no Youtube. O evento foi conduzido pela juíza do Trabalho Gabriela Lenz de Lacerda, coordenadora do Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT-RS, pela servidora Roberta Liana Vieira, representante dos servidores e servidoras negros e negras no Comitê, e pelo servidor Alexandre Modesto, ator e integrante do Coletivo Negros TRT4, que fez a leitura e interpretação de trechos de músicas do Emicida. 

Boas-vindas

No início da atividade, o desembargador Gilberto Souza dos Santos deu as boas-vindas ao artista e enfatizou a importância de receber uma personalidade tão relevante na luta do povo negro do Brasil, sobretudo em um contexto de desigualdade e de predominância da branquitude em espaços institucionais. Para ilustrar esse panorama, o magistrado informou que existem apenas seis juízes negros na Justiça do Trabalho gaúcha, num total de 2,1% dos cargos da magistratura trabalhista do Estado. No caso dos servidores, esse montante chega a apenas 6,5% do quadro.

A presidente do TRT-RS, desembargadora Carmen Izabel Centena Gonzalez, por sua vez, chamou atenção para a importância dos saberes produzidos fora dos ambientes acadêmicos, como é o caso da produção artística de Emicida. "Ao proclamar que o amor é o segredo de tudo, Emicida traduz meu desejo, como presidente, de que o amor e a empatia sejam os elos que nos unem", expressou.

A juíza Gabriela Lenz de Lacerda ressaltou o empenho da Administração do TRT-RS na promoção da atividade, bem como em relação às diversas iniciativas empreendidas pelo Comitê Gestor de Equidade nos últimos tempos. Segundo ela, essa disposição política é fundamental para que ações antirracistas se concretizem em âmbito institucional. A magistrada também agradeceu ao trabalho dos servidores da Escola Judicial envolvidos na iniciativa.

Leia, a seguir, alguns trechos da fala do compositor, separados por tema, a partir das perguntas trazidas pelas mediadoras e ilustrados por trechos de canções interpretados pelo servidor Alexandre Modesto. Os textos se aproximam o máximo possível das falas do rapper, mas não as espelham, necessariamente, de forma literal, apesar de serem fiéis aos conteúdos apresentados.

Infância e ausência paterna

"Viver a história é uma coisa. Racionalizá-la e entender que ela se reflete em outras pessoas não foi uma conta precisa. Meu pai morreu quando eu tinha seis anos de idade, mas só foi cair a ficha um ano depois, quando teve o Dia dos Pais na escola. Eu achava que  meu pai podia ter sido melhor. Mas com a experiência que eu estou tendo com a paternidade percebo que o melhor pai que você teve é o pai que você pode ser. Nessa experiência encontro barreiras muito menores que as que meu pai enfrentou. Entendi o tempo, o momento, e compreendi o que um país pode fazer com um homem como o meu pai. Hoje estamos em paz."

Mãe

"Minha mãe vivia sob pressão. Separar a pressão que uma pessoa sofre da sua alma é uma ótima forma de enxergá-la. Eu falo que Deus é a minha mãe porque entendemos Deus como uma aposta, para que o sofrimento faça sentido, uma promessa de que encontraremos acalanto e beleza depois de atravessarmos as barreiras. Era o que a minha mãe oferecia quando conseguia guardar um trocado, uma gorjeta, e chegava na sexta-feira com uma pizza pra gente. O equivalente a quinze viagens para a Europa!!!"

Dívida trabalhista com o povo negro devido a 356 anos de escravidão

"Tem pessoas que problematizam as cotas e eu não vejo mal em problematizar, mas é preciso ver qual a intenção. Muitas vezes só querem silenciar. É como aquela goteira que temos em casa: decidimos entre colocar um balde para aparar a água ou subir no telhado e arrumar. É mais difícil subir no telhado. No caso dessa desigualdade, o balde já transbordou, já derramou, e continuamos questionando sobre o balde, se água é limpa ou não. Essa dívida trabalhista existe e foi reconhecida pelo próprio Estado brasileiro. José de Alencar, o escritor, foi ministro da Justiça e justificou a escravidão em uma carta ao imperador. O Estado brasileiro foi conscientemente estruturado em cima do trabalho não remunerado de seres humanos. As cotas são uma forma de enfrentar essa dívida, mas apenas uma das formas. Temos que falar de latifúndio, de imensas fazendas, maiores que Estados. As cotas começam nas universidades, mas precisam ser efetivas em outros setores da sociedade também."

Violência e masculinidade

"Existem várias experiências do feminino e dos feminismos, ao mesmo tempo que a masculinidade é considerada única e universal. É uma grande ilusão: a masculinidade nos diz que somos poderosos, sinônimos de prazer, e que temos o direito de violarmos o mundo da forma que quisermos. Por que é que os homens são campeões de suicídio? Porque a virilidade é uma mentira. Ela nos leva até a beira do precipício e nos larga lá sozinhos."

Drogas e Justiça

"Não dá pra acreditar que apenas a polícia vai resolver a questão das drogas. É uma guerra perdida, uma guerra contra as pessoas pobres. Quantas crianças foram enterradas em 2020 vítimas dessa guerra? Não diminuímos o consumo de drogas, mas aumentamos a letalidade policial e esburacamos várias famílias inocentes. A função dos juízes é equilibrar a balança da Justiça. Sei que não é uma equação fácil de ser feita, mas não se pode, por causa da pressão, se desconectar da necessidade de conhecer a humanidade de quem está sentado na cadeira de réu."

Fórum Antirracista

O 2º Fórum Aberto de Educação Antirracista é promovido pelo Coletivo Negros TRT4, pelo Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT-RS, pela Escola Judicial e pelo Sindicato dos Trabalhadores no Judiciário Federal e Ministério Público da União no Rio Grande do Sul (Sintrajufe-RS). Por meio de atividades on-line como apresentações de videoaulas, rodas de conversa e encontros para debates, o evento oferece discussões e subsídios teóricos sobre branquitude e negritude até o dia 20 de novembro, no ambiente virtual da EJud4.

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Fonte: Juliano Machado (Secom/TRT-RS)
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