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Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região

Escola Judicial

Publicada em: 24/03/2015 00:00. Atualizada em: 24/03/2015 00:00.

ENTREVISTA: Edith Seligmann trata sobre adoecimento psíquico no trabalho

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Ao lado da ministrante canadense Katherine Lippel, a psiquiatra Edith Seligmann atuará, como debatedora, na Aula Inaugural da Escola Judicial no primeiro semestre deste ano. O evento acontece no dia 27 de março, das 14h às 16h30, no Auditório Ruy Cirne Lima, localizado no Foro Trabalhista de Porto Alegre, e terá transmissão online para unidades do interior do estado.




A psiquiatra e pesquisadora da temática “Saúde Mental relacionada ao Trabalho e ao Desemprego" concedeu entrevista à Escola Judicial. Leia-a na íntegra:



Escola Judicial – É possível estabelecer relação, no Brasil, entre precarização do trabalho e o diagnóstico de doenças mentais decorrentes do trabalho?

Edith Seligmann – Sim. Existem vários estudos comprovando essa relação, que constitui um dos desafios mais preocupantes dentro do campo da Saúde Mental relacionada ao Trabalho. Devo abordar esse assunto na exposição do dia 27, pois certamente haverá aproximações, embora também importantes diferenças, entre as formas de precarização estudadas no Brasil e em outros países, inclusive no Canadá (país de atuação da professora Katherine Lippel).


EJ – Há características do trabalho moderno que o tornam mais propício ao adoecimento psíquico do trabalhador?  

ES – Por muito tempo o avanço tecnológico foi considerado o grande vilão nesse tema. Atualmente, é possível verificar que, mesmo existindo muitos aspectos potencialmente  capazes de ocasionar danos, de modo geral são os aspectos derivados da forma de administrar e organizar o trabalho os maiores responsáveis pela produção dos danos à saúde, tanto geral como mental, pois as duas são, indiscutivelmente, inseparáveis. Formas de administrar que muitas vezes desconsideram os tempos e outras condições necessárias ao trabalho mental (cognitivo) e aos sentimentos mobilizados pelas situações vividas no cotidiano de quem trabalha, frequentemente, em atividades altamente complexas ou que implicam grande responsabilidade sobre vidas humanas (indústria farmacêutica; serviços de saúde; usinas nucleares; entre outros exemplos) ou equipamentos caros e grandes quantias de dinheiro (sistemas financeiros computadorizados). Trabalhos que não prescindem de confiança e comunicação sincera, inclusive para as comunicações necessárias em caso de emergências. Isso é contrariado, visivelmente, por diretrizes gerenciais de uma exacerbação competitiva que rompe a sociabilidade, isto é, os laços interpessoais. Desse modo, é o gerenciamento adoecedor, norteado por uma espécie de guerra cega pela competitividade, que vem merecendo amplo estudo para o entendimento de como se geram, atualmente, no trabalho, exaustão emocional (burnout); quadros depressivos e outros adoecimentos, além do aumento de acidentes nos últimos anos. A insuficiência de tempo para descanso e "tempo para viver e conviver" tem sido grave carência e razão de desmotivação e desgaste mental. Riscos presentes em atividades como a computação e a automação mereceram muito estudo, resultando em maior eficiência da proteção (infelizmente não implementada, ainda, em muitos contextos de trabalho). Existem, também, no momento, algumas tecnologias avançadas, cujo estudo ainda desafia tanto o conhecimento dos perigos à saúde quanto as formas de protegê-la – esse é o caso das nanotecnologias. É fundamental, no entanto, que não se desconheça que, na atualidade, são os contextos sociais que impactam o mercado de trabalho e os valores éticos que atravessam a sociedade e o mundo do trabalho. Mundo em que prolifera o que vários cientistas sociais têm denominado como uma "modernização regressiva", tanto globalmente como, de modo mais preocupante e lesivo, onde as desvantagens da desigualdade são mais fortes. Em nome da modernidade e da competitividade, danos ao meio ambiente também revertem em danos à saúde humana, inclusive à saúde mental - mas isso, embora não possa ser esquecido, já nos leva a outro tema...


EJ – Em que medida o estigma social recaído sobre o adoecimento mental prejudica ações preventivas no ambiente de trabalho? 

ES – O estigma voltado aos que apresentam distúrbios mentais é antigo, já foi objeto de muito trabalho social e esforço educativo, porém persiste, ainda, em muitos contextos socioculturais. Esse preconceito precede a ampliação do conhecimento contemporâneo sobre o desgaste e as formas de adoecimento, inclusive mental, relacionadas ao trabalho. Essa é uma das razões de sua persistência entre os administradores e gestores em geral, no caso brasileiro. A outra razão reside em um conjunto de imensos equívocos, destacando-se os seguintes: a) sobre a irreparalidade destes agravos; b) falsas concepções sobre a gênese desses adoecimentos – atribuídas, por muitos, exclusivamente a causas familiares/genéticas, sem nenhuma conscientização sobre a fonte laboral de uma parte importante dos agravos mentais que vem se alastrando nos ambientes de trabalho. Felizmente, aos poucos, desenvolvem-se progressos a respeito, a partir da responsabilidade e da conscientização de alguns gestores, em algumas instituições da Administração Pública e do setor privado.



Aula Inaugural terá transmissão online para unidades do interior

Através de Smart TVs instaladas nos Foros de Santa Maria, Santa Rosa, Pelotas, Bagé e Sapiranga, magistrados e servidores lotados nas respectivas microrregiões poderão participar da Aula Inaugural da EJ neste semestre. Por meio desse formato de transmissão, os participantes poderão enviar perguntas aos palestrantes. 

Haverá, ainda, certificação das horas de formação aos inscritos. Para isso, é necessário o preenchimento dos Registros Reflexivos, exatamente como em um curso presencial. 


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