Entrevista com Christophe Dejours: A vida psíquica dos trabalhadores é atravessada pela organização do trabalho
Christophe Dejours é autoridade mundial nos estudos sobre saúde mental e trabalho. Abaixo, o francês responde a três perguntas a respeito do tema, encaminhadas pela EJud4. Confira:
1) Na sua obra intitulada “A Loucura do Trabalho”, está dito que o homem inteiro é condicionado ao comportamento produtivo pela organização do trabalho, e que tal condicionamento se reflete no tempo disposto pelo trabalhador fora do trabalho. A contaminação do tempo do trabalhador fora do trabalho segue representando um fenômeno atual?
O termo de condicionamento me incomoda um pouco. A vida psíquica dos trabalhadores é “atravessada de ponta à ponta” pela organização do trabalho. As exigências do trabalho geram sofrimento. Contra este sofrimento são construídas (o que é diferente da noção de condicionamento) as estratégias de defesa (individuais ou coletivas) que invadem o funcionamento psíquico inclusive fora do tempo de produção propriamente dito. Quando a organização do trabalho dá acesso ao prazer os enigmas do trabalho (o “real” do trabalho) invadem igualmente o tempo privado. É um fenômeno que sempre existiu, e que continua hoje em dia. Mas as formas dessa contaminação mudam com a evolução da organização do trabalho. Atualmente não se trata somente de uma contaminação. Com os meios informáticos, frequentemente o trabalho de produção propriamente dito se prossegue fora do tempo de trabalho e ocupa uma parte considerável do tempo privado.
2) Quais as causas mais correntes de adoecimento mental pelo trabalho em nossos dias? É possível fazer uma apreciação global do fenômeno ou imprescindível restringi-la a especificidades regionais?
A causa principal das patologias mentais do trabalho está ligada à profunda transformação da organização do trabalho sob efeito dos novos dispositivos introduzidos pelos gestores. É um fenômeno massivo que se manifesta em quase todos os países do mundo, de maneira muito similar qualquer que seja o país ou continente.
3) Os índices de adoecimento mental pelo trabalho tem recrudescido com o passar do tempo? Se sim, isso deve ser atribuído mais ao refinamento do diagnóstico ou à intensificação dos processos de trabalho?
Os indicadores de morbidez das patologias mentais do trabalho (“riscos psico-sociais”) mostram um agravamento da situação em todos os países. É certo que os diagnósticos foram aprimorados em relação ao passado. Mas não é a única razão. Novas patologias surgiram, que antes não existiam. Por exemplo, as tentativas de suicídio, e os suicídios no local do trabalho, nas atividades industriais e de serviços, apareceram no começo dos anos 2000.
O seminário “Assédio Moral” também terá as presenças do desembargador Valdir Florindo (TRT2) e da psicóloga Mayte Amazarray. A atividade objetiva agregar conhecimentos para que todos possam reconhecer e prevenir o assédio moral.
Veja a programação completa:
Manhã (9h às 12h)
9h às 10h15min – As implicações do assédio moral na saúde mental do trabalhador (Christophe Dejours, psicanalista e pesquisador francês).
10h15min às 10h45min – Debates
10h45min às 11h05min – Coffee Break
11h05min às 12h – Conclusões/Encerramento
Tarde (14h às 17h)
14h às 15h – Dano moral e as relações de trabalho (Valdir Florindo, desembargador do TRT2)
15h às 15h20min – Coffee Break
15h20min às 16h20min – A organização do trabalho e seus impactos na saúde mental do trabalhador (Mayte Amazarray, psicóloga)
16h20min - 17h: Debates e encerramento