Oficina sobre jardinagem em vasos traz dicas para o cultivo de plantas em pequenos espaços
A paixão de Julio Cesar Giuliani pela criação de plantas em vasos é tanta, que já foi motivo de piada. Engenheiro agrônomo formado pela UFRGS, ele conta que era o único aluno da sua turma sem relação com o agronegócio. “Meus colegas me apelidaram de 'agrônomo de apartamento', pois não tinha terra para plantar. Tudo que aprendi na faculdade, plantei em vasos”, revela. Sem perder o entusiasmo, realizou mestrado em horticultura geral e doutorado em fitotecnia, dedicando-se à elevação de hortaliças, frutas e Plantas Agrícolas Não Convencionais (as chamadas “PANCs”). No curso realizado nesta quinta-feira (6/6), por ocasião da Semana do Meio Ambiente, Giuliani compartilhou com magistrados e servidores conselhos voltados para o plantio, adubação e manejo de plantas. Conheças as principais dicas dadas por ele:
Insolação e escolha das plantas
Os cuidados para manejo começam com a escolha de plantas adequadas ao ambiente que você possui. Luz, umidade e até a presença de animais de estimação devem ser considerados. Plantas não comestíveis ou com espinhos, por exemplo, são desaconselhadas em locais com animais ou crianças pequenas.
É possível plantar jardins em todos os tipos de ambiente, mas é preciso cuidar para a especificidade de cada planta. O primeiro aspecto a ser pesado é a quantidade de sol que uma planta necessita. Não adianta querer colocar uma muda de tomate dentro de casa ou deixar uma orquídea exposta ao sol direto todo o dia: tanto a falta quanto o excesso de luminosidade podem matar uma planta. Segundo o agrônomo, é possível considerar três grupos quanto à necessidade de insolação:
Plantas de sol: precisam de um mínimo de 4h de sol direto por dia (ex: hortaliças, tomate-cereja e alguns temperos – como sálvia, lavanda, manjericão, manjerona);
Plantas de meia sombra – precisam de menos de 4h por dia de sol, porém ainda precisam de alguma luz direta (ex: orquídea e alguns temperos - hortelã, menta);
Plantas de sombra/de interior – Plantas que não necessitam de luz solar direta (ex: samambaia).
Uma vez que você tenha escolhido onde montar seu jardim, escolha plantas que se adaptem aquele local. Atualmente, é possível checar a quantidade de sol recomendada para plantas específicas pela internet. Giuliani recomenda fazer essa escolha antes mesmo de sair para comprar as plantas, visto que floriculturas e agropecuárias muitas vezes passam informações imprecisas para estimular o cliente a levar as mudas disponíveis. Ele também recomenda cautela com blogs de jardinagem, pois nem todos passam informações corretas.
Escolher o melhor lugar para cada planta não significa que elas terão de permanecer ali o tempo todo. Uma das maiores vantagens do plantio em vasos é justamente a mobilidade. “Eu tenho plantas que preciso deixar fora de casa. Quando vem uma visita, levo para dentro. Depois, ponho fora de novo”, descreve o agrônomo.
Tipos de vasos
O aproveitamento do espaço escolhido para a construção de sua horta ou jardim passa pela determinação dos recipientes que serão usados para colocar as plantas. Há muitas variedades de vasos disponíveis atualmente, porém o agrônomo explica que não existem diferenças significativas entre um e outro. Muitos recipientes não-convencionais também podem ser utilizados, tais como garrafas pet, canos de PVC, latas e outros. “Qualquer objeto pode servir de recipiente, desde que tenha furos de drenagem. As raízes respiram, e, se acumular muita água, a planta não vai sobreviver”, explica Giuliani. Com essa infinidade de opções, cabe cuidar com o uso de recipientes de plástico que recebam sol direto – pois esses podem se deteriorar e rachar.
Embora a escolha do recipiente importe pouco para a planta, há implicações práticas e estéticas que podem ser consideradas. No caso de jardins verticais, recomenda-se que se evite posicionar em alturas muito elevadas plantas que terão de ser futuramente colhidas. Um dos modelos recomendado pelo agrônomo é o chamado “mamute” (foto ao lado). Ele facilita a distribuição de água entre os vários andares e pode, inclusive, impermeabilizar a parede em que está instalado (desde que os vasos sejam justapostos). É recomendado um cuidado semelhante com hortas, que não se indica que fiquem muito baixas ou altas. Canteiros e plantas ornamentais não necessitam da mesma cautela.
Água e substratos
Embora cada planta tenha necessidades específicas de irrigação, há algumas regras gerais que ajudam no cuidado. Cactos e plantas ditas “suculentas” precisam de pouquíssima água, sendo necessário regar apenas uma vez a cada duas semanas – e é comum que o vaso fique seco. Nas demais plantas, é possível mergulhar a ponta do dedo no vaso para verificar se ele está seco. Se estiver, é recomendado regar novamente. Caso a planta em questão seja frutífera ou se pertencer a alguma variedade que, em terra, teria raízes longas, será necessário irrigar e adubar com maior frequência, para garantir a profusão de nutrientes necessária.
Apesar da crença comum de que as plantas “gostam” de receber água nas folhas, a umidade na folhagem aumenta a propensão a fungos, doenças e insetos. Por isso, a irrigação deve, sempre que possível, ser feita pela terra ou substrato.
O substrato é um composto orgânico moído, mais permeável que a terra. Há diversos tipos, de origens variadas, mas é comum que eles já venham previamente adubados para o plantio. O substrato tem a vantagem de permitir que a umidade seja conservada sem excessos, com a água escoando mais facilmente. Eles ainda auxiliam na distribuição de nutrientes, pois é comum, ao adubar uma terra mais compactada, que esses fiquem concentrados na superfície, dificultando a absorção pela planta. Solos argilosos também podem ficar barrentos quando recebem muita água, o que facilita a propagação de pragas na raiz e, em casos extremos, podem encharcar e matar a planta. Qualquer que seja o tipo de vaso e a colocação escolhidos, o agrônomo defende preencher o recipiente com substratos, em vez de terra.
Plantio
Recomenda-se ter à mão uma pá e uma tesoura de poda para gerir as plantas nos vasos. Caso você compre sementes ou uma muda, há também cuidados específicos a serem tomados com o plantio. O primeiro deles se refere à época adequada para cultivar certas plantas. Giuliani recomenda o site da Isla, uma fábrica de sementes que relaciona as melhores épocas do ano para plantar, no clima frio, hortaliças, frutas e tubérculos.
Outro cuidado importante é com o espaçamento entre as plantas. Variedades muito vigorosas, como a pimenta e a hortelã, não podem compartilhar vasos. No entanto, hortaliças como rúcula e alface, ou ainda temperos como sálvia e manjericão, podem ser plantados lado a lado em vasos grandes, desde que respeitada uma distância saudável entre eles – a qual pode ser encontrada pela internet. O uso de estacas de sustentação é indicado para o plantio de mudas. Caso o plantio seja realizado com sementes, recomenda-se arrancar brotos adicionais que nasçam muito próximos, para permitir que vingue o mais vistoso.
A propagação de plantas utilizando galhos pode variar bastante de uma planta para outra. A expressão “propagação” é usada em pesquisas científicas, que segundo o agrônomo são mais confiáveis do que blogs e sites amadores de jardinagem. Ele recomenda fazer uma pesquisa específica sempre que se desejar plantar um galho de uma planta, para entender suas particularidades. Via de regra, o corte no galho deve ser diagonal, de modo a maximizar a área de regeneração da muda e estimular a criação de raízes. Esse galho também deve, preferencialmente, permanecer um ou dois dias em água antes de ir para o vaso.
Quando foram utilizadas variedades destinadas ao consumo, deve-se pesar o escalonamento do plantio. Em outras palavras, se você plantar cinco pés de alface, irá colher cinco pés de alface ao mesmo tempo. O ideal é plantar um por semana, e ir colhendo com o mesmo intervalo. “Além disso, é normal ter uma perda de 30% com plantas orgânicas. Por isso, o ideal é plantar um pouco mais do que precisamos para o consumo”, pondera o agrônomo.