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Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região

Escola Judicial

Publicada em: 10/11/2023 11:59. Atualizada em: 10/11/2023 11:59.

"O tokenismo é uma mostra de resistência do racismo", afirma professora da UFRJ no Fórum Antirracista do TRT-4

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Começou, na tarde de quarta-feira (8/11), o 5º Fórum Aberto de Educação Antirracista do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região (RS). O evento, organizado pelo Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade do TRT-4, pelo Coletivo de Servidores e Servidoras Negros e Negras e pela Escola Judicial, contará com debates a respeito do racismo também nos dias 10 e 16 de novembro, tanto de maneira presencial como on-line.

Na palestra de abertura, foi abordado o tema "As Consequências do Tokenismo na Saúde Mental das Pessoas Negras e a Síndrome do Negro Único". Como palestrantes, estiveram presentes a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Alessandra Pio Silva, mestre e doutora em educação pela instituição e doutoranda em Psicologia Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), e a psicóloga Irimara Gomes Peixoto, psicanalista em formação e mestre em Estudos de Gênero e Sexualidade Feminina pela Georgia State University, em Atlanta, nos Estados Unidos. A palestra ocorreu no Auditório Ruy Cirne Lima, do Foro Trabalhista de Porto Alegre.

Veja aqui todas as fotos da atividadeAbre em nova aba.

Irimara Peixoto, Milena de Oliveira e Alessandra Silva
Irimara Peixoto, Milena de Oliveira e Alessandra Silva

O tokenismo se caracteriza pela presença de um "representante" ou "símbolo" negro ou negra em cargo de destaque em uma organização, que utiliza essa iniciativa como forma de dizer que é inclusiva ou aberta à diversidade, embora não haja representação efetiva de pessoas negras em outros espaços institucionais.

Segundo Irimara, a questão do símbolo é significativa para análise desse fenômeno, já que o símbolo é algo estático, que não se move. Logo, eleger uma pessoa negra como "símbolo" é remover sua subjetividade. "A pessoa acaba ocupando um não-lugar, apesar de ser a única no seu espaço", frisou. Essa carga tão grande pode acarretar, conforme a palestrante, na Síndrome do Impostor, quando uma pessoa se auto-sabota a partir de sentimentos de que não é capaz de exercer determinada função, ou de que tem competência insuficiente. "O negro único não pode errar, precisa ser perfeito. Mas perfeitos são os objetos. Seres humanos erram", ilustrou. "Imagina ser o primeiro naquele espaço, ter que construir ferramentas para lidar com uma posição em que você nunca foi reconhecido", questionou.

Psicóloga Irimara Peixoto
Psicóloga Irimara Peixoto

Essa excepcionalidade, como explicou Irimara, carrega em si uma solidão. "Como é crescer sem referências? Toda pessoa branca tem um modelo. Mas eu nunca havia visto uma psicóloga negra, então nem sabia que poderia ser uma psicóloga", exemplificou. "Isso resulta no fato de que as pessoas precisam pensar nas suas definições antes que as definições dos outros a atravessem. As pessoas precisam ser referências de si mesmas e isso significa um trabalho mental imenso", esclareceu.

Uma das formas de amenizar essa carga mental, como apontou Irimara, são os espaços exclusivos de pessoas negras, nos quais esse esforço não precisa estar presente o tempo todo e nos quais as vozes são reconhecidas. "Precisamos dessas pausas entre iguais, esses momentos de separação são importantes para nossa saúde mental", sugeriu. "Momentos em que possamos nos questionar quem somos nós para além dessas expectativas, onde encontramos o nosso casulo e a nossa conexão para além dessas exigências", concluiu.

Desumanização

Alessandra Pio Silva
Professora Alessandra Pio Silva

Para Alessandra Pio Silva, o tokenismo surge a partir de um processo de desumanização das pessoas negras. Esse processo, como apontou, começa já nos livros didáticos, nos quais negros e negras são retratados sempre como escravizados, vítimas de violência, de açoites. "Após a abolição, os negros desaparecem dos livros. São 400 anos de história resolvidos ao se virar uma página", ilustrou.

Nos livros de ciências, segundo a professora, os corpos de seres humanos são sempre brancos. O iluminismo europeu, acrescentou, é inspirado em seres humanos brancos, ou seja, a evolução humana é sempre ligada a brancos, por isso o insulto "macaco" é dirigido às pessoas negras, porque macaco é o ancestral da espécie humana. "Um branco não é chamado de macaco porque brancos não regridem na escala de evolução, só negros", ensinou.

Uma outra forma de desumanizar é também retirar a diversidade das comunidades escravizadas que chegaram ao Brasil, como enfatizou Alessandra. "Referem-se à África como uma coisa só. Mas existem centenas de etnias na África. Em um único país uma pessoa fala no mínimo três línguas", explicou.

O tokenismo, conforme a professora, alimenta esse contexto. "O tokenismo serve para dizer que lugar os negros e negras devem ocupar para serem úteis ao capital", destacou. "Nesse sentido, o tokenismo é uma mostra de resistência racista", finalizou.

Mesa de abertura, mostrando os participantes citados no texto
Ato de abertura do evento

Abertura

Fizeram parte da solenidade de abertura do Fórum a juíza do Trabalho Mariana Lerina, coordenadora do Comitê de Equidade, representando a Administração do Tribunal, o servidor Alexandre Modesto, representante dos servidores e servidoras negros e negras no Comitê, a juíza do Trabalho Carolina Dias de Paiva, representando a Escola Judicial e a desembargadora Brígida Joaquina Charão Barcellos, como representante das magistradas e dos magistrados do Tribunal. A mediação da atividade ficou a cargo da servidora Milena de Cássia Silva de Oliveira, representante do Coletivo de Servidoras e Servidores Negras e Negros.

Nas suas falas, todos e todas destacaram a importância do tema ser discutido em uma instituição predominantemente branca, cujos números de pessoas negras em cargos de chefia ou de autoridade ainda é inexpressivo, apesar das iniciativas nesse sentido nos últimos anos.

Confira neste linkAbre em nova aba as próximas atividades do 5º Fórum Aberto de Educação Antirracista do TRT-4. A notícia também traz orientações sobre como se inscrever.

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Fonte: Texto de Juliano Machado e fotos de Gabriel Borges Fortes (Secom/TRT4)
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